Elementos estruturais da construção civil são fonte de pesquisa de Afonso Tostes desde 2004, quando suas esculturas já partiam da observação de soluções rudimentares de escoramentos para sustentação de muros e paredes. De lá para cá, a obra do artista mineiro pode ser definida, cada vez mais, como uma “investigação sobre as estruturas”. Suas esculturas são feitas geralmente com madeiras recuperadas de demolições, mas, em sua mais recente exposição individual, o procedimento mudou. Em vez de se apropriar das madeiras de desmonte de um antigo paiol de milho, em Minas Gerais, Tostes decidiu manter a estrutura original do prédio, remontando-o no espaço central da Casa França-Brasil. Dentro não há nada além de sutis intervenções escultóricas do artista.

chamada-roteiros.jpg

No deslocamento, como um autêntico readymade duchampiano, o paiol mineiro manteve sua forma intacta, mas perdeu a função de depósito de alimentos. “É um lugar para se guardar ideias”, sugere o artista. As ideias implícitas à obra evocam passagens da história do Brasil e os costumes ancestrais das populações afro-brasileiras. Completam o ciclo de revisões do passado as instalações “Fogo Ancestral” e “Ferramentas” (foto). A primeira é formada por nove pinturas em óleo sobre tela, com imagens de fogueiras que iluminam a escuridão. A segunda é composta por mais de uma centena de ferramentas de trabalho urbano e rural, recolhidas no interior de Minas e no centro do Rio. As lâminas, sempre gastas e oxidadas, continuam intactas, mas os cabos foram esculpidos no formato de ossos e articulações. Assim, as ferramentas na forma de úmeros e rádios representam extensões dos braços; e aquelas na forma de fêmures, fíbulas e tíbias são como as pernas dos trabalhadores. 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias