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ELE NEGA, CLARO
O presidente do PDT, Carlos Lupi, jura que não recebeu
os R$ 200 mil e promete processar delatora

Afastado do Ministério do Trabalho após ser acusado de liderar esquema de corrupção em 2011, o presidente do PDT, Carlos Lupi, volta a colocar a pasta e seu partido na pauta de escândalos. A denúncia de que Lupi recebeu R$ 200 mil de propina no prédio do Ministério do Trabalho, revelada com exclusividade por ISTOÉ, será investigada pela Comissão de Ética da Presidência da República. Em pleno período de reforma ministerial, seu sucessor, Manoel Dias, pode ser convocado a dar explicações ao Congresso. Na volta do recesso, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle votará requerimento do deputado Fernando Francischini (SDD) chamando o ministro a prestar esclarecimento. Em meio à crise, na quinta-feira 30, o chefe de gabinete de Manoel Dias, Rodrigo Minotto, foi exonerado.

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De acordo com Ana Cristina de Aquino, sócia da transportadora AG Log, a propina de R$ 200 mil a Lupi foi apenas a entrada de um pagamento de R$ 3 milhões para a criação do Sindicato de Cegonheiros de Pernambuco (Sincepe). Quando Lupi foi substituído por Brizola Neto, o processo de criação do sindicato parou. Ela diz que a tramitação do pedido foi retomada depois que Manoel Dias assumiu o cargo. Tanto Lupi como o ministro negam as acusações. O presidente do PDT usa adjetivos histriônicos para rebater Ana Cristina e Manoel Dias diz que ela não tem como provar o pagamento de propina. “Me nego a responder sobre esse assunto”, afirmou o ministro, em evento no Rio de Janeiro. Lupi se esquiva do assunto. Mas, à Comissão de Ética da Presidência, o ex-ministro terá que dar relatório detalhado respondendo às acusações até o dia 10 de fevereiro, prazo máximo estabelecido pelo colegiado. Se a comissão considerar inconsistentes as explicações de Lupi, ele pode sofrer uma “censura”, mancha indelével no seu currículo no serviço público. Ao menos por ora, João Graça, assessor especial do Ministério do Trabalho e ex-sócio de Ana Cristina na AG Log, saiu ileso das investigações. Ele exerce cargo de DAS 4 na pasta e a comissão de ética só investiga funcionários acima de DAS 5, postos de chefia.

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Nas frentes judiciais, os Ministérios Públicos de Minas Gerais e do Paraná apuram as denúncias publicadas por ISTOÉ. O procurador Rodrigo Leite Prado recebeu documentos de Ana Cristina. A empresa de Ana Cristina tem sede em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte. Em Curitiba, o irmão do governador Beto Richa e secretário de Infraestrutura Logística do Estado, Pepe Richa, foi acusado de receber R$ 500 mil em propinas pagas por Ana para pressionar a montadora Renault a contratar a AG Log. Em troca, parte dos lucros do contrato seria dividida entre o secretário e João Graça. Os Richa atribuem as acusações a tramas de adversários políticos. Mas a Promotoria de Defesa do Patrimônio de Curitiba considerou as informações de Ana Cristina relevantes e decidiu abrir uma investigação para apurar o caso. O líder da oposição na Assembleia Legislativa do Paraná, Tadeu Veneri (PT), também vai convocar Pepe Richa para esclarecimentos na volta do recesso parlamentar.

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O PDT se calou diante da fervura. Aliados de Brizola Neto, correligionário e desafeto político de Lupi, afirmam que a tese de recebimento de propina pareceu “muito crível” de acordo com o histórico administrativo do ex-ministro. Para o governo, no entanto, o escândalo produziu um problema partidário. Durante a “faxina” ministerial de 2011, Dilma respirou aliviada ao substituir Lupi por Brizola. No entanto, o PDT pressionou e ameaçou criar problemas na aliança com o PT, se Lupi não mantivesse a influência no Ministério do Trabalho. Agora, se na reforma ministerial a presidenta decidir tirar o ministro e entregar a pasta ao PROS – legenda recém-criada que reuniu dissidentes pedetistas –, o PDT ameaça deixar a base do governo e transferir seu tempo de televisão para o candidato tucano Aécio Neves.

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Se o ministro Manoel Dias sair muito chamuscado em sua sabatina na Câmara, o governo está disposto a pedir sua cabeça na segunda etapa da reforma, em março. O PDT de 2014, no entanto, não tem a mesma força que o partido detinha antes da criação do PROS e do Solidariedade, no ano passado. A legenda perdeu dez deputados para as novas siglas e, consequentemente, tempo de televisão. Assim, pelos cálculos do Planalto, pode ser mais vantajoso dar a pasta do PDT para o PROS. 

fotos: Roberto Castro/AG. Istoé; Monique Renne/CB; PEDRO LADEIRA/AG. ISTOé


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