O fascínio da humanidade pelos cosméticos é milenar – 3.000 anos antes de Cristo os egípcios já usavam mel e leite para embelezar a pele. Mas, nessa área, nunca se viram tantas inovações como agora. As prateleiras de perfumarias e farmácias estão repletas de cremes feitos com modernas tecnologias e substâncias ativas que prometem tratar de rugas a celulite, de flacidez a manchas. É uma geração de supercosméticos, muitos já comparados a medicamentos, receitados pelos dermatologistas como parte do tratamento. A venda desses produtos é em grande parte a responsável pelo fôlego de um mercado que só cresce no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, o setor apresentou crescimento médio de 11% nos últimos 11 anos. Para os aficionados pela beleza, os lançamentos enchem os olhos. Mas é claro que, entre tantos cremes e potes, há muitos que vendem o que não entregam, ou entregam menos do que vendem.

Grande parte das novidades é resultado de um investimento brutal das empresas da beleza. Hoje, a exemplo das grandes companhias farmacêuticas, as principais representantes dessa indústria dispõem de estruturas consideráveis para desenvolvimento de produtos. A Avon, por exemplo, conta com mais de 300 cientistas no seu centro de pesquisa, em Nova York, nos Estados Unidos. Em 2005, a empresa investiu US$ 100 milhões só na modernização do centro. Na fábrica da Nivea, na Alemanha, são destacadas 800 pessoas para criação de produtos. A francesa L’Oréal investiu, só em 2006, 532 milhões de euros em desenvolvimento de cosméticos – por ano, são gerados cerca de quatro mil novos artigos. A Clinique também reforça a área de testes clínicos. A empresa assegura que um produto seu é testado 7,2 mil vezes antes de ser lançado. As aplicações são feitas em uma amostra de 600 voluntários, com a realização de 12 testes em cada um.

No Brasil, a Natura trabalha com um moderno centro de investigação científica onde são estudadas mais de 100 moléculas por ano. “Temos mais de 300 pessoas dedicadas à pesquisa e desenvolvimento de produtos”, afirma Eduardo Luppi, vice-presidente em inovação da Natura. Na área da tecnologia, as empresas buscam meios para permitir melhor penetração das substâncias. Uma das principais ferramentas usadas hoje com essa finalidade é a nanotecnologia, que utiliza os sistemas de escala nanométrica (um nanômetro é um bilionésimo de metro). As nanopartículas armazenam compostos, penetram mais profundamente na pele e possuem um mecanismo de liberação dos ativos que permite um efeito prolongado. Uma das indústrias que empregam esse recurso é O Boticário.

O saldo dessa combinação entre pesquisa básica e tecnologia são produtos que prometem ação cada vez mais efetiva e profunda. O maior volume de lançamentos fica por conta dos cosméticos para rejuvenescimento facial. Neste gênero, há uma categoria, os dermocosméticos, que já fazem parte do arsenal médico de tratamento da pele. “Entre eles estão o Redermic e o Substiane, da La Roche Posay, o Eluage, da Avéne, e o Prevage, da Allergan”, aponta a dermatologista Bruna Bravo, professora de pós-graduação do Instituto de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. A dermatologista paulista Ana Lúcia Récio está entre os especialistas que indicam produtos deste gênero a seus pacientes. “Mas os que recomendo precisam ter eficiência comprovada”, afirma. No entanto, embora tenham ganhado o aval dos médicos por apresentarem eficácia, os dermocosméticos apresentam ação limitada. Eles jamais terão o mesmo efeito de um procedimento dermatológico, realizado em consultório, como a aplicação de preenchedores (substâncias que diminuem rugas e sulcos mais profundos) ou de toxina botulínica, conhecida como botox. “Eles são complementos do tratamento recomendado pelo médico”, explica Bruna.

Ainda para rejuvenescimento facial, há outra safra de novos produtos. Entre eles está o Renew Clinical Thermafirm, da Avon. A empresa afirma que o creme reduz rugas e flacidez após quatro semanas de uso. Outro é o Retin-Ox, da marca RoC. Ele é feito com retinol, substância que, ao penetrar na pele, se transforma em ácido retinóico, muito usado pelos dermatologistas para renovar a pele. Na linha dos produtos feitos com matérias-primas naturais, o Immortelle, da L’Occitane, usa substâncias extraídas da flor que empresta o nome ao produto e promete aumentar a circulação de nutrientes na pele. O Natura Chronos Flavonóides de Passiflora retirou do extrato da planta passiflora os flavonóides, compostos que combatem o envelhecimento precoce da cútis.

Para reforçar a hidratação, um dos destaques é o Hydratant Mixte, de Anna Pegova. O creme é feito com as aquaporines, substâncias que facilitam a circulação de água entre as células e cuja descoberta rendeu ao cientista Peter Agre o Prêmio Nobel de Química em 2003. Entre o gênero “botox like” (cremes que imitam a ação do famoso botox), há a linha Gradual Complex, da Adcos Cosmética. Contra cravos, a novidade é a máscara anti-cravos da Neutrogena. O produto dissolve os famigerados pontos pretos. Há ainda um outro gênero entre os produtos faciais que vêm ganhando destaque. São os que prometem agir contra agressores da pele como a poluição. Nesta categoria estão a Emulsão New Active, da Vita Derm, e as linhas All Day All Year, da Sisley, e AntiOx, da Exsymol, empresa que pesquisa e desenvolve princípios ativos.

Porém, mais uma vez, cabe aqui a ressalva dos especialistas. Segundo eles, a maioria dos produtos, em especial os que não estão na categoria dos dermocosméticos, apresenta baixas concentrações dos princípios ativos, as substâncias que realmente oferecem os benefícios propalados. Isso significa que os efeitos podem demorar e são discretos, o que às vezes frustra muita gente.Por isso, é importante saber o que esperar. “Realmente não vamos alcançar um efeito como o do botox. Mas atuamos bastante para prevenir os problemas de pele e, quem sabe, fazer com que o consumidor não precise se submeter a um procedimento mais forte”, esclarece Luppi, da Natura. Há outra questão, levantada pela dermatologista Bruna Bravo. “Em geral, esses cremes funcionam mais como hidratantes e protetores solares do que outra coisa”, afirma a médica. A especialista também vê com ressalvas cremes feitos à base de ouro, caviar, pérola e outros materiais luxuosos. “É apenas uma tentativa de supervalorizar o produto, mas o uso dessas matérias-primas em geral não tem respaldo científico”, explica.

Na área de maquiagens, o avanço foi agregar outros benefícios. Os produtos estão chegando com a promessa de hidratar e proteger a pele contra o envelhecimento. Um dos exemplos deste gênero é o Personal Match Base Compacta, da Avon, que também absorveria a oleosidade da pele. Nessa categoria, acredita-se que de fato esses efeitos podem ocorrer e ajudar a manter a pele saudável.

Entre os produtos para o corpo, o foco são os cosméticos contra celulite e gordura localizada. Eles são vários. O Nivea Body Bye-Bye Celulite e o Lipo Metric, da Vichy, são os mais recentes. Segundo a Vichy, testes conduzidos por médicos durante um mês mostraram perda de centímetros na região dos quadris em 90% das usuárias. A outra novidade neste gênero é o RoC Retinol Anti-Cellulite. A Johnson & Johnson, fabricante do produto, afirma que estudo realizado com 49 mulheres revelou melhora da celulite em 62% das mulheres após duas semanas de uso do produto. Outra que também garante resultados é a Dior, com seu creme anti-celulite Plasticity. Para os homens, uma das opções disponíveis é o Abdosculpt, da Biotherm, indicado para redução de gordura localizada e firmeza da pele abdominal.

É importante ressaltar que, apesar dos resultados informados pelas em presas, esta categoria de produtos é vista com desconfiança pelos especialistas. A maioria acredita que eles podem trazer benefícios, mas não na proporção anunciada. “É tudo perfumaria. Cremes contra a celulite, por exemplo, podem melhorar a circulação na pele, mas não têm o poder de quebrar molécula de gordura”, afirma a dermatologista Bruna Bravo. Para combater esses problemas, a principal recomendação é seguir a clássica combinação dieta equilibrada/ exercício físico.

Como se vê, apesar dos progressos, não se pode esperar dos cosméticos milagres de beleza. Além das limitações em termos de quantidade de substâncias ativas e do fato de alguns prometerem ações não respaldadas pela ciência, existem outras ponderações. Em primeiro lugar, os produtos são feitos para a população em geral. Portanto, não levam em consideração as necessidades individuais. Depois, as ofertas são tantas que o consumidor pode se confundir e levar o produto inadequado para sua pele. Sem contar os riscos de reações alérgicas, embora as empresas sérias tomem o cuidado de lançar cremes com chance baixa de causar irritação. Por isso, vale a pena conferir se o produto foi submetido a esses testes.