A Justiça de Minas Gerais deu um importante passo para pôr fim a uma quadrilha especializada em falsificar documentos, extorquir políticos e empresários e ameaçar delegados, promotores, juizes e desembargadores. Na segunda-feira 20, por determinação da juíza Maria Isabel Fleck, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, o empresário Marco Aurélio Carone foi para a cadeia. Ele é proprietário do site Novo Jornal, que, segundo o Ministério Público, é usado para achacar os alvos do grupo e denegrir a imagem daqueles que se opõem ao esquema criminoso. “Esse grupo de delinquentes vem agindo há algum tempo. Eles têm como líder o falsário Nilton Monteiro e como relações públicas o indivíduo que se passa por jornalista virtual de nome Marco Aurélio Flores Carone, responsável pelo site Novo Jornal, que nada mais é senão um balcão para os negócios do bando”, diz o promotor André Garcia de Pinho, um dos responsáveis pelas investigações e pelo pedido da prisão de Carone.

chamada.jpg
SENTENÇA
A juíza Maria Isabel Fleck está convencida de que o empresário Carone
é uma ameaça à sociedade e usa o site Novo Jornal para extorquir

Nilton Monteiro é um velho conhecido da Polícia Federal e da Procuradoria da República. Ele é acusado de falsificar a lista de Furnas – uma relação com o nome de diversos políticos mineiros que teriam recebido recursos irregulares para suas campanhas – e está preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Agora foi a vez de Carone ir para a prisão. Segundo a juíza, está “evidenciado que Carone utiliza seu jornal para ameaçar qualquer cidadão que esteja cumprindo os seus deveres”. Maria Isabel Fleck determinou a prisão do empresário por entender que, em liberdade, ele representa uma “ameaça à sociedade” e intimida as testemunhas. Entre as vítimas dos ataques feitos pelo Novo Jornal estão, segundo a juíza, o desembargador José do Carmo Veiga, o ex-procurador geral de Justiça Jarbas Soares Júnior, o juiz de direito atualmente em Nova Serrana, Christiano de Oliveira Cesarino, e o delegado chefe do Departamento de Investigações, Márcio Nabak. Todos eles com alguma participação nas investigações de crimes atribuídos à quadrilha liderada por Nilton Monteiro.

01.jpg

A prisão de Carone não encerra as investigações promovidas pelo Ministério Público, mas os documentos apreendidos com o empresário e pseudo-jornalista na segunda-feira 20 poderão ajudar a responder a duas perguntas que vêm há algum tempo desafiando os promotores especializados em combater o crime organizado em Minas Gerais. A primeira é saber qual é a origem dos recursos usados por Carone para manter o Novo Jornal no ar. O Ministério Público já descobriu que o site não tem receita publicitária e que umas poucas propagandas que chegou a veicular eram frias. Agora, em posse de parte da papelada apreendida na segunda-feira, inclusive extratos de contabilidade, os promotores esperam encontrar alguma pista que leve ao financiador do grupo. “Esse grupo evidentemente recebe algum financiamento clandestino e isso nós vamos descobrir”, diz um dos delegados que participaram da apreensão dos documentos. “Quem financia atividade criminosa também comete crime.”

A segunda pergunta feita pelo Ministério Público diz respeito a um atentado sofrido pelo promotor André Garcia de Pinho no fim do ano passado. Pinho é um dos responsáveis pelas investigações contra Nilton Monteiro e também contra o Novo Jornal. No meio do ano passado, o promotor recebeu alguns recados ameaçadores. E, por fim, em dezembro de 2013, um dos carros de Pinho foi incendiado. Na ocasião, o promotor afirmou que tanto as ameaças quanto o atentado poderiam ter relação com as investigações que conduzia contra um líder de uma quadrilha “que está preso na Penitenciária Nelson ­Hungria”. O promotor, é claro, se referia ao grupo de Monteiro. Com os documentos apreendidos com Carone, essas suspeitas se reforçam. Isso porque na agenda do empresário foram encontrados manuscritos contendo o endereço do promotor e as placas dos carros usados por ele. Segundo o delegado Guilherme da Costa, da 4ª Delegacia de Investigação de Falsificação, Sonegação Fiscal e Crimes Contra o Patrimônio Público, o Ministério Público apontou que as anotações na agenda pessoal de Carone são indícios de que o atentado contra o promotor teria a autoria da quadrilha de Nilton Monteiro. “O que nos foi passado pelo Ministério Público é que nos manuscritos da agenda estavam as placas dos carros e o endereço do
promotor atacado no ano passado”, disse o delegado.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

02.jpg
"O site Novo Jornal nada mais é senão um
balcão de negócios para o bando"

André Garcia Pinho, promotor

Em sua defesa, Carone alega que exerce o papel de jornalista e que, portanto, tem direito à liberdade de expressão. Em março do ano passado, porém, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) emitiu uma nota oficial na qual manifesta “repúdio em preocupação com o material divulgado pelo site Novo Jornal”. O site, de acordo com a nota, “produz reportagens com falso conteúdo que se prestam a finalidades criminosas”. Na avaliação do promotor Pinho, a tese da liberdade de expressão usada por Carone é tão absurda quanto um traficante preso transportando drogas alegar que está sendo ofendido no direito constitucional de ir e vir.

Foto: Samuel Aguiar/O Tempo/Folhapress


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias