O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, está completamente desesperado. Desespero que está levando o país a mergulhar em uma guerra civil. Mugabe incentivou a invasão de 900 fazendas de proprietários brancos por seus aliados, os ex-veteranos da guerra da independência da Grã-Bretanha. Cerca de três mil membros da Associação Zimbabuana de Ex-Combatentes da Guerra da Libertação e os líderes do partido de Mugabe Zanu-PF estão pondo para correr os latifundiários brancos e organizando gigantescas marchas de protestos na capital, Harare.
Os descendentes dos colonizadores ingleses que se recusam a entregar suas fazendas estão sendo agredidos e o clima de tensão se instaurou no país.

A estratégia de Mugabe é aumentar sua popularidade ao capitalizar a ira dos que lutam por um pedaço de terra há 20 anos, desde o fim da colonização britânica. O presidente zimbabuano, que foi um dos líderes do desmantelamento do regime racista da ex-Rodésia, almeja agora a todo custo vencer as eleições legislativas, antes previstas para maio e agora sem data para acontecer. Isso porque o próprio presidente dissolveu o Parlamento na terça-feira 11.

A decisão de incentivar as desapropriações veio depois de Mugabe ter perdido o referendo de fevereiro, que lhe garantiria mudanças na Constituição para permanecer por mais uma década no poder. Poder que está escorregando por seus dedos. Aos 76 anos, a velha raposa culpa o Ocidente pelo desarranjo econômico que desconjunturou ainda mais o país. A inflação galopante está em 50%. Dois terços da população estão abaixo do nível de pobreza estimado pela ONU e o desemprego atinge metade dos zimbabuanos. Para piorar, segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 26% estão contaminados pelos vírus da Aids. “O desastre econômico é culpa dos inimigos do Ocidente”, acusa ele. O presidente afirma estar arrependido de ter feito um acordo com o Fundo Monetário Internacional. Num insulto ao que considera os imperialistas britânicos, ele chamou o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, de “gângster gay”.

Em resposta às medidas populistas de Mugabe, os sindicalistas representados pelo partido de oposição Movimento para Mudança Democrática (MCD) declararam-se prontos a resistir ao governo. O líder do MCD, Morgan Tsvangirai, assumiu que se uniu aos brancos para protestar contra a violência das ocupações. Na quinta-feira 13, o juiz da Suprema Corte, Moses Chinengo, fez um apelo ao presidente para que desse um fim às invasões ilegais. Mas a cena política poderá ficar pior. Oficiais do alto escalão acenam para a possibilidade de um golpe, caso Mugabe seja realmente expulso do pódio.