Confidências sexuais, queixumes afetivos, dicas para evitar gafes num funeral, ou simplesmente um púlpito para reclamar do mau atendimento na concessionária de carros e do sapato caríssimo que se desmancha na calçada. A nova onda da Internet são os endereços em que é possível exercer direitos básicos da cidadania, como colocar a boca no trombone. Sem culpa nem pudor. Embora úteis por amplificar a voz do consumidor, os novos sites não economizam em excentricidade. Há desde palcos para reclamações cotidianas como o endereço www.sakocheio.com ou o www.ivox.com.br, até um indiscreto site que reproduz as conversas sussurradas num virtual banheiro de mulheres.

Enquanto o governo da China tenta manter o país isolado do acesso à rede mundial de computadores, proliferam em outros cantos do planeta os sites que funcionam como confessionário público. A liberdade de expressão online promete ainda dar muito pano para manga. Um caso recente foi o site em que uma mulher insatisfeita resolveu revelar ao mundo todos os podres de seu casamento falido. Os detalhes deixariam corada até a ex-primeira dama de São Paulo Nicéa Pitta.

Descontadas as expressões vulgares, o inusitado www.banheirofeminino. com.br tem o mérito de tratar de assuntos corriqueiros para as mulheres da década de 90. Exemplo: o que dizer em situações constrangedoras como a falta de ereção do parceiro, bem na hora H? O site ainda serve como muro de lamentações para quem busca manter acesa a chama da paixão, apesar da cara-metade insistir em assassinar a gramática sempre que escreve uma carta de amor.

A esquisitice marcou mesmo presença no endereço www.funeral.com.br. Além de um obituário completo, com registros de falecimentos do Oiapoque ao Chuí, ali é possível tomar uma verdadeira aula sobre os rituais fúnebres de cada religião, os costumes e as roupas adequadas para cada situação. São recomendações úteis para evitar vexames como acender uma vela num velório mórmom. Ou sair de uma cerimônia budista sem deixar com os familiares do morto um envelope com dinheiro para ajudar a pagar as despesas derradeiras. Quem quiser pode elaborar uma seleta lista de pessoas para comunicar, por e-mail, sobre celebrações póstumas, como as missas de sétimo dia. Sem contar serviços de valor inestimável, como orientação jurídica sobre a doação de órgãos ou o de envio de flores para os mais distantes rincões do País.

Muito semelhante ao histórico canto dos oradores de Londres, o Speakers´ Corner, que todo domingo, desde 1872, reúne os ingleses interessados em bradar discursos inflamados sobre um palanque improvisado em pleno gramado do Hyde Park, a Internet tornou-se uma verdadeira tribuna popular. Nos endereços SakoCheio e iVox, as opiniões dos consumidores estão divididas em categorias, para facilitar a consulta dos interessados na opinião alheia. Cada um conta sua história, tece elogios ou, o que é mais comum, relata falhas de atendimento graves. As queixas estão divididas em categorias: automóveis, eletrônicos, computadores, entretenimento, atividades familiares, provedores de Internet, agências de turismo e companhias aéreas.

Em ambos os sites, a proposta é dar a palavra ao consumidor, que pode exercer no meio eletrônico a velha prática do comentário boca a boca. “A idéia central do site é que o consumidor, antes de comprar, pesquise e, após utilizar, opine”, revela Claudio Amadeo, um dos criadores do SakoCheio. Se no início do século houvesse algo semelhante, talvez Lenin ou Karl Marx, dois lendários frequentadores do canto dos oradores, não precisassem lançar mão de seu fleumático discurso em pleno domingo londrino. Sinal dos tempos. Antes era preciso subir no púlpito improvisado e torcer para que a chuva não afugentasse os ouvintes. Com a Internet, surge um importante instrumento para o cidadão cibernético manifestar suas opiniões e exigir seus direitos. E a audiência não se restringe a um parque, mas alcança todo o palneta.