Nos tempos do Colégio Santa Cruz, Sulamitha Schiesari, 18 anos, moça de classe média alta, sempre foi a primeira da turma. Brilhante, entrou na concorrida Faculdade de Direito do Largo São Francisco com apenas 16 anos. Sula tinha namorado, amigos, carreira promissora e nenhum motivo para o suicídio. Porém, em 29 de março, seus pais foram surpreendidos com a notícia de que ela tinha pulado do estacionamento do sexto andar do Shopping Iguatemi, um dos mais sofisticados de São Paulo. Sula foi deixada pela mãe às 18h na porta do Clube Pinheiros, onde fazia ginástica. Ela contou à mãe que passaria no shopping para plastificar os documentos, antes de fazer exercícios. Vinte e sete minutos depois, Sula estava morta e os documentos plastificados, como dissera. A delegada Rita de Cássia Silva e o titular Orlando Basílio Ivanov, ambos do 15º DP, sustentavam a hipótese de suicídio com base em depoimentos contraditórios de funcionários do shopping. A família contestou a tese e contratou os advogados Sérgio de Magalhães Filho e Paulo Cremonesi para fazerem uma investigação paralela. “Sula foi vítima de um crime. Suicídio livra a responsabilidade do shopping”, sustenta Magalhães, acrescentando que os depoimentos são contraditórios e o delegado não requisitou provas, como as fitas de vídeo do shopping gravadas no dia da morte de Sula. Magalhães e Cremonesi arrolaram testemunhas, entre elas a dona-de-casa Patrícia, que viu a moça cair. Outra testemunha teria cruzado com Sula, entrando no estacionamento do terceiro andar, minutos antes da queda. Com a polêmica, o caso está sob sigilo e foi transferido para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.
A delegada Rita de Cássia, que registrou a ocorrência, foi removida para o 25º DP, e o delegado Ivanov e o investigador Wagner Grans também estão fora do caso. Eles foram afastados das funções pela Secretaria de Segurança por irregularidades praticadas no caso do assalto ao prédio do jornalista Paulo Henrique Amorim. Eles teriam favorecido Alexandre Pires Ferreira, autor do roubo, com procedimentos irregulares. Além disso, o deputado Celso Russomano (PPB), sub-relator da CPI do Narcotráfico, recebeu denúncia de um funcionário do Iguatemi, que acusou o shopping de pagar gratificações mensais a policiais do 15º DP para agilizar ocorrências e obter favores. Na quarta-feira 12, o Iguatemi contratou o advogado Márcio Thomaz Bastos. “Todas as evidências do inquérito apontam para a hipótese de suicídio ou acidente”, afirmou Bastos. Quanto ao pagamento de propinas, disse: “Eles negam peremptoriamente tal acusação.”