Com apenas 5 anos, Arthur Ribeiro Athayde já tem uma grande experiência internacional no currículo. No dia 3 de janeiro, ele embarcou para a cidade de Ocoee, na Flórida, Estados Unidos, onde passará o mês estudando em uma escola pública americana e fazendo atividades culturais no país com um grupo formado por professores e colegas da escola de inglês Dice, do Rio de Janeiro. Tudo isso sem a presença dos pais. Por mais estranho que soe para o padrão das famílias brasileiras, acostumadas a manter os filhos sob as asas durante a infância, mandar crianças sozinhas para uma experiência de intercâmbio no Exterior está se tornando uma opção para alguns pais. Nos últimos cinco anos, a procura por programas para jovens a partir dos 8 anos cresceu 25%, segundo o STB, empresa do setor. “Até pouco tempo atrás, essa procura não existia. Acredito que as crianças têm mais acesso à informação hoje e parecem estar mais inteiradas dessa possibilidade”, afirma Fabiana Fernandes, porta-voz da CI, que também promove essas viagens. Para a mãe de Arthur, a servidora pública Adriana Amorin Ribeiro, 41 anos, a viagem é uma oportunidade de o filho adquirir cedo a fluência no segundo idioma. “É uma oportunidade que eu não tive e queria que ele tivesse. Nenhum curso no Brasil pode substituir essa experiência”, afirma. Mas, ainda que essa prática tenha pontos positivos (leia mais à dir.), especialistas alertam para os cuidados necessários ao decidir a hora de deixar uma criança viajar sozinha para um lugar tão distante da segurança de casa.

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AMIZADE
Thiago de Carvalho (ao centro, de camiseta verde), 10 anos, com colegas
americanos durante programa de intercâmbio nos Estados Unidos

Segundo a psicanalista e terapeuta infantil Anne Lise Silveira Scappaticci, a estruturação da personalidade da criança é baseada nas experiências concretas. Por isso, é imprescindível ter uma figura importante e conhecida por perto. A coordenadora pedagógica da Dice, Eloisa Le Maitre de Oliveira Lima, salienta que só viaja com alunos com quem tem contato há pelo menos dois anos. A idade mínima para viajar é 4 anos. “A vantagem de começar cedo é que o aprendizado não tem impregnação cerebral, acontece antes de consolidar o sotaque do português”, diz. Mas é preciso levar em conta as várias situações que envolvem ficar longe da família. A arquiteta Paula Garra, 38 anos, conta que quando a filha Ana Paula viajou para os Estados Unidos em 2013, aos 10 anos, chorou de saudade ao ligar para casa. “Mas foi só uma vez. No geral, sentíamos que ela estava feliz. No último dia até perguntou se poderia ficar mais uma semana”, diz Paula. A filha ficou três semanas fora e viajou pela agência FIT, de Belo Horizonte. Para a psicopedagoga Quezia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia, a idade mais indicada para viajar para o Exterior sozinho é de, no mínimo, 12 anos. A partir dessa faixa etária, a capacidade de abstração é melhor e eles já têm mais senso crítico. Antes disso, ficam muito vulneráveis sem a presença de um adulto da família.

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EXPERIÊNCIA
Arthur Athayde durante aula em sua primeira viagem ao Exterior sozinho, aos 5 anos

Muitas das grandes empresas de intercâmbio oferecem programas voltados para jovens a partir dos 8 anos. “Nessa faixa etária, a maior demanda é por curso de inglês e atividades culturais”, diz Marcia Mattos, gerente de cursos do STB. No geral, os alunos ficam hospedados dentro de universidades em época de férias. Há opções que podem ir de uma semana a um mês. Os preços variam de US$ 500 por semana a US$ 5 mil por três semanas, e muitos pacotes incluem alimentação e diversas atividades. Em relação à duração da estadia, a psicanalista infantil Anne Lise Scappaticci afirma que o tempo, para as crianças, não tem uma medida padrão. Portanto, dependendo do caso, 30 dias podem parecer uma eternidade. Outro ponto importante é os pais estarem seguros em relação à viagem. Caso contrário, é melhor esperar. Foi o que fez a gerente administrativa Renata Prates Coutinho, 46 anos. O filho Thiago Prates de Carvalho, 10 anos, também está nos Estados Unidos com a turma da Dice. “Ele entrou na escola quando tinha 1 ano e meio de idade. Meu marido já queria ter mandado para o intercâmbio desde os 6 anos, eu é que não me sentia preparada para ficar longe dele”, diz Renata. Thiago viajou com o irmão gêmeo, Gabriel, mas os dois ficam em salas diferentes. “No começo, eles não gostaram porque iam perder as férias, já que lá eles estudam. Mas sei que vale a pena”, diz Renata.

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VIAGEM
Grupo da escola de inglês Dice (acima), do Rio de Janeiro, que faz intercâmbio
na cidade de Ocoee, nos EUA; abaixo, Juliana Lafayette Pinto, 7 anos

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Fotos: Escola Dice


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