Amante dos épicos, o cineasta italiano Franco Zefirelli queria em sua nova empreitada homenagear de alguma forma o esplendor renascentista de Florença, sua cidade natal. Seria um risco, já que, quando é muito ambicioso em suas pretensões, Zefirelli costuma ser vazio e entediante. Para a própria sorte, o diretor expressou sua admiração por Florença, sem a pompa costumeira, no simpático e nada pretensioso Chá com Mussolini (Tea with Mussolini, Itália/ Inglaterra, 1999), em cartaz em São Paulo e Rio de Janeiro na sexta-feira 14.

Ambientado nas décadas de 30 e 40, o filme vai muito além da reverência à arquitetura da bela cidade. Com uma história cativante, recheada de fortes tons autobiográficos, Chá com Mussolini flui fácil, mesmo que apresente perdoáveis clichês. Zefirelli se coloca na pele do personagem condutor, o garoto Luca (vivido em idades distintas por Charlie Lucas e Baird Wallace). Como o cineasta na vida real, Luca foi fruto de um relacionamento extraconjugal, teve sua vida tumultuada pela Segunda Guerra Mundial e combateu os alemães.
Enriquecido por muita ficção, o enredo centra-se no convívio de Zefirelli na infância e adolescência com um especial grupo de senhoras inglesas e americanas em Florença. Para representá-las, destacam-se as boas interpretações de Maggie Smith como a soberba Lady Haster Random, de Cher na pele da sedutora americana Elsa e de Lily Tomlin, que interpreta a lésbica americana Georgie. Franco Zefirelli não acertou apenas na escolha do elenco. Ao esquecer a fixação por clássicos operísticos e literários, e agarrar-se a fatos pessoais, acabou contando uma boa história, de forma simples e sem a mão pesada de outras ocasiões.