No vestiário masculino dos Sharks, equipe de futebol americano sediada em Miami, todos estão nus. De um lado, negros enormes com piercings, colares e obturações de ouro escutam rap no último volume. De outro, brancos do tamanho de armários, se deliciam com os uivos de James Hetfield, do Metallica. No ambiente porejando testosterona entra Christina Pagniacci – interpretada por Cameron Diaz –, a dona do time que, enquanto marcha em direção ao técnico Tony D’Amato (Al Pacino), aponta para um dos brutamontes e dispara: “Nada de ereções na minha frente, está ouvindo?”

Se o assunto é clichê da cultura ianque, ninguém mais indicado para filmá-lo do que o diretor Oliver Stone. E nada mais clichê para o americano médio do que o futebol americano, como prova Um domingo qualquer (Any given Sunday, Estados Unidos, 1999), cartaz nacional a partir de sexta-feira 14. Para contar a reviravolta dos Sharks, um grande time em franca decadência, Stone traça uma panorâmica bem ao estilo de seu colega Robert Altman. Perfila desde o big business dos cartolas até as picuinhas do cotidiano dos atletas e técnicos, inventariando tudo o que encontra pelo caminho com seus recursos histéricos de cortes e efeitos, que em nada difere do bombardeio televisivo gênero MTV. Auxiliado por uma trilha sonora exuberante, Stone centra uma boa história na disputa entre a tradição, representada pela antiga estrela do time Jack “Cap” Rooney (Denis Quaid), e os novos tempos, tendo à frente o novato Willie Beamen (Jamie Foxx), um rapper que passa o filme às turras com o personagem de Pacino. São 150 minutos de pura adrenalina e um elenco estelar que ainda inclui Matthew Modine e Charlton Heston.