Enfim uma boa notícia sobre meio ambiente. Bastaria preservar 1,4% da superfície do planeta para garantir a sobrevivência das mais ricas reservas de plantas e animais ameaçados de extinção. Nesse naco de terra espalhado pelos cinco continentes mora um de cada três animais vertebrados existentes no mundo, excluídos os peixes e os insetos. Quase metade (44%) das plantas e flores conhecidas também nasce e floresce nessas matas. São paraísos ecológicos que concentram as chamadas espécies endêmicas, que só existem ali e em mais nenhum outro lugar do mundo. Significa que a extinção de um animal ou planta típica da região não tem volta. E foi por isso que os ambientalistas resolveram estabelecer prioridades. Depois de três anos de pesquisas, 100 cientistas definiram os 25 pontos considerados críticos para a ecologia. Os hot spots, pontos quentes em inglês, demandam soluções urgentes para preservar o pouco que restou do verde.

São lugares onde o desmatamento eliminou mais de 70% das florestas. E é só por isso que o Brasil tem apenas dois pontos críticos: a Mata Atlântica, da qual restam 7,5%, e o Cerrado, com 20% de vegetação nativa. A Amazônia não entrou na lista por questão matemática. “O desmatamento não dizimou totalmente a mata, mas a Amazônia, a Bacia do Congo e a Ilha de Nova Guiné são as grandes áreas naturais da Terra e nossa próxima prioridade”, explica Russell Mittermeier, presidente da Conservation International, patrocinadora do estudo. Biólogo naturalizado brasileiro, ele é um dos autores de Hot spots – As ecorregiões biologicamente mais ricas e mais ameaçadas da Terra, livro que mapeou os 25 pontos críticos de biodiversidade, um calhamaço de 430 páginas recheado de fotos belíssimas que custa R$ 80.

“A seleção levou em conta o endemismo, que é a existência de espécies exclusivas de cada região, o grau de devastação e de ameaça às espécies”, resume Mittermeier. Representa uma área de 2,1 milhões de quilômetros quadrados, o tamanho da Arábia Saudita. É pouco se comparado com o que existia antes. As florestas tingiam de verde 17,4 milhões de quilômetros quadrados, ou 11,8% da superfície terrestre. “Impossível reverter a destruição, mas com US$ 500 milhões ao ano é possível ajudar a proteger os hot spots da biodiversidade”, calcula Mittermeier.

Dentre os 25 pontos críticos, cinco regiões precisam de ação real e imediata: Madagáscar, com 9,9% de mata; Filipinas, onde restam 3%; Indonésia e ilhas vizinhas de Sumatra e Bornéu, com 7,8% de floresta; Mata Atlântica, com 7,5% da flora original; e Caribe, onde há 11,3% da vegetação natural. A Mata Atlântica, que margeia todo o litoral brasileiro, contém 20 mil plantas, sendo oito mil exclusivas da região. A floresta abriga 261 mamíferos, 620 aves, 200 répteis e 280 anfíbios. Seu morador mais ilustre é o mico-leão-dourado, que, aliás, continua ameaçado de extinção. “A reprodução em cativeiro foi bem-sucedida no Rio, mas não há evidência de que a população na natureza tenha aumentado”, revela o biólogo Roberto Cavalcanti, diretor da Conservation International no Brasil. O sucessor do mico na campanha de preservação é o macaco-muriqui, maior primata depois do homem no continente americano. Existem apenas 1.158 bichos de cara preta, braços longos, que chegam a pesar 15 quilos e vivem isolados em 19 ilhas de florestas cercadas de asfalto ou fazendas agropecuárias.

Uma das surpresas do estudo, que mereceu a capa da revista científica Nature, foi a inclusão do Cerrado brasileiro entre as prioridades de conservação. Ali estão dez mil espécies de plantas, 4.400 delas não brotam em nenhum outro lugar do mundo. A espécie-símbolo é o buriti, ou Mauritia vinifera, que cresce nas margens umedecidas dos rios, nas veredas, trilhas poeirentas e áridas do sertão brasileiro descritas por João Guimarães Rosa em Grande sertão: veredas. Além de metade das plantas do Brasil, o Cerrado abriga animais únicos como o lobo-guará e o tamanduá-gigante. Na savana que cobre o coração do Brasil vivem 837 espécies de pássaros, 161 mamíferos, 120 répteis e 150 anfíbios, verdadeiro berço natural de vidas.

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