Celso Pitta (PTN) começou a semana preocupado. A divulgação da lista de supostas propinas pagas a vereadores publicada na última edição de ISTOÉ não estava no roteiro do Palácio das Indústrias para tentar manter o prefeito paulistano até o final do mandato. Somente na quarta-feira 5 é que os aliados de Pitta rejuntaram os cacos e conseguiram manter a composição desejada na comissão de sete vereadores que irá analisar o pedido de impeachment formulado pela OAB.

Não se pode dizer, porém, que nada mudou. O prefeito já tinha como certo que a comissão que daria uma vitória por quatro votos contra três enterraria o caso na fase do parecer. Agora precisa adquirir a simpatia do vereador petebista Natalício Bezerra. Após a publicação da lista de supostas propinas, o vereador-taxista Natalício tem se mostrado bastante indeciso. “Voto a favor do início de um processo de afastamento do prefeito”, disse na terça-feira 4.

Depois mudou de posição. Votou com os governistas para que os trabalhos da comissão fossem sigilosos. A situação para o prefeito complicou pelo PMDB. O vereador Ivo Morganti está sendo pressionado a aprovar o impeachment. Tudo indica, porém, que da Câmara saia uma pizza. As experientes raposas Brasil Vita e Wadih Mutran têm dito que Pitta desconhece qualquer esquema de propina. Ainda que a comissão aprove um parecer a favor do impeachment, a decisão será submetida ao plenário e o processo de afastamento só terá início com 33 votos dos 55 vereadores. Um número alcançado apenas na cassação de dois vereadores envolvidos com a máfia dos fiscais.


Um outro problema para o prefeito, mas também perfeitamente administrável, está na bancada tucana. A divulgação da lista comprometeu alguns vereadores do PSDB, que agora fazem questão de adotar uma postura contrária ao prefeito. Além disso, os tucanos também se mostraram irados com o fato de o vereador Brasil Vita (PPB), que teria recebido irregularmente R$ 554 mil em apenas oito meses, ter sido indicado como relator da comissão. Na prática, a raiva dos tucanos foi traduzida em um relatório apresentado na quinta-feira 6 à comissão. O documento do PSDB sustenta que deve ser iniciado um processo de impeachment, pois entendem que “administrador inescrupuloso não assina recibo”. Os tucanos afirmam que bastam as denúncias para que o processo se inicie. “Vamos tentar atrair o voto dos que ainda estão indecisos”, afirma Gilson Barreto, o membro do PSDB na comissão.

Se na Câmara Municipal a estrada de Pitta e de seus aliados está razoavelmente bem pavimentada, no Ministério Público e na Polícia Civil seus caminhos lembram as ruas de São Paulo: estão esburacados. Em 30 dias, deverão ser concluídos os laudos sobre o conteúdo dos 15 computadores apreendidos na Secretaria de Governo, por causa da suposta lista de propinas. É possível que sejam encontrados arquivos que confirmem as denúncias feitas pela ex-primeira-dama Nicéa Pitta. Os delegados da força-tarefa também darão início a uma série de depoimentos. Com eles, pretendem detalhar as acusações já feitas.

Novas denúncias – Na última semana, o Ministério Público começou a investigar a existência de funcionários fantasmas na Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). Uma relação de 37 nomes foi fornecida pelo vereador Carlos Neder (PT). Segundo ele, o emprego de fantasmas indicados por aliados de Pitta pode caracterizar um toma-lá-dá-cá. Situação semelhante está sendo investigada no Anhembi e na Companhia de Processamento de Dados do Município (Prodam).

Além das denúncias envolvendo órgãos municipais, tanto a polícia como o Ministério Público têm recebido novas informações sobre os gastos do prefeito e de sua família. Sabe-se, por exemplo, que o pianista João Carlos Martins teria emprestado mais dinheiro do que foi declarado por Nicéa. A ex-primeira-dama revelou os dois empréstimos que o ex-dono da Paubrasil fizera a seu filho, Victor Pitta. Ela não contou, porém, que também foi beneficiada pelo músico, que lhe fez pelo menos uma remessa de dinheiro no Exterior.

João Carlos já prestou um depoimento em Miami para explicar que as denúncias feitas no Brasil não o envolvem em nenhuma irregularidade. De acordo com ele, o dinheiro que movimenta nos Estados Unidos não é produto de propinas nem provém de nenhuma fonte ilícita. Como reside no Exterior, o pianista vai processar Nicéa nos Estados Unidos. As denúncias da ex-primeira-dama, aliás, já estão lhe rendendo alguns problemas. Na quarta-feira 5, a Justiça de São Paulo acolheu ação promovida por Salim Curiati contra Nicéa. O mesmo já acontecera em relação ao senador Antônio Carlos Magalhães. São notícias que não agradam ao prefeito Pitta, pois todos esses casos inevitavelmente levarão a novas investigações.

Como a podridão se alastra por todos os cantos da administração municipal, entre os aliados do prefeito o desafio atual reside no tempo. Pitta quer que a Câmara decida o mais rápido possível a tramitação do pedido de impeachment formulado pela OAB. As novas denúncias, ainda que não estejam efetivamente comprovadas, podem criar um clima desfavorável ao prefeito e aos aliados, tornando difíceis os votos dos governistas por arquivamento. Durante seu governo, Pitta já sobreviveu a quatro pedidos de impeachment. Com isso, não só ele mas também os vereadores que lhe apóiam estão desgastados. E este ano tem eleição.