i68851.jpgQuando voltou do exílio político, o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira chocou o País ao desfilar pelas areias de Ipanema usando uma minúscula tanga de crochê. Na época, o traje de banho representava a expressão maior de um conjunto de idéias trazidas pelo ex-guerrilheiro que ainda não fazia parte da agenda brasileira, como ecologia, casamento gay e descriminalização da maconha. Em recente entrevista à revista Go Outside, o próprio Gabeira lembrou que a defesa do verde era considerada "coisa de veadinho". Ao que ele, na época, ironizou: "Sim, é coisa de veadinho, mas também de oncinha, macaquinho, etc." Três décadas depois, Gabeira não precisa mais recorrer a ironias para explicar opções que agora agradam ao eleitor. Ele surpreendeu ao chegar ao segundo turno no Rio de Janeiro, graças à votação maciça de jovens e da zona sul carioca. Nessas três décadas, Gabeira manteve a coerência, embora, é verdade, tenha minimizado em seu discurso a questão da maconha. A ótima performance nas urnas mostra que, em 2008, Gabeira e o Brasil falam, enfim, a mesma língua.

"É um mito da mídia dizer que sou um candidato da zona sul e o outro, do proletariado", afirma Gabeira. O outro, no caso, é Eduardo Paes (PMDB), candidato do governador Sérgio Cabral, que obteve melhores resultados nas áreas mais pobres da cidade. Enquanto Gabeira arrebatou 62,67% dos votos dos bairros mais sofisticados – Ipanema, Lagoa e Leblon -, Paes levou apenas 20,66%. Nos subúrbios, a situação se inverteu. O peemedebista abocanhou 36,86% dos votos em Campo Grande contra 11,59% de Gabeira, por exemplo. Mas, além desse suposto paradoxo entre os candidatos, há outro, mais polêmico: a nacionalização, ou não, das eleições cariocas.

Como disse Marcus Figueiredo, cientista político e professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, "o desfecho será palanque pró-Lula, se ganhar o Eduardo Paes (PMDB), ou anti-Lula, se ganhar o Fernando Gabeira (PV), para 2010." O PT local já anunciou que vai apoiar Paes, apesar de Lula ter descartado participar da disputa no Rio, pois é desafeto dos dois concorrentes. Paes chamou Lula de "chefe da quadrilha" na época do mensalão. Gabeira, por sua vez, é apoiado pelo PSDB e até veiculou em seu programa na tevê mensagem de apoio do tucano José Serra – provável candidato à sucessão de Lula.

Mas Gabeira desconversa. "Falam em nacionalização e transformam isso numa briga entre PT e PSDB. Minha idéia de nação é muito mais alta. A nacionalização da disputa do Rio vai se dar porque a campanha é emocionante e muitos estão torcendo pelo Brasil afora", diz ele, que virou mito nacional depois de participar do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969. Sobre a dobradinha com Serra no segundo turno, ele descarta: "A participação dele na tevê foi muito boa, eu agradeço muito, mas não vejo necessidade de ele voltar a atuar."

Como deputado federal em Brasília, Gabeira criticou o presidente Lula, mas como candidato à prefeitura carioca, praticamente não tocou no assunto. Ao ser questionado se isso se devia à alta popularidade do presidente, ele explicou: "O que há de diferente agora é que sou candidato a prefeito e não a deputado de oposição."

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