Vem da medicina tradicional uma esperança contra o câncer de colo de útero, o que mais mata mulheres no Brasil. O ginecologista Paulo Naud, 48 anos, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresenta nesta semana no Congresso Europeu de Ginecologia, em Paris, os primeiros resultados de um trabalho alentador. A pesquisa mostra que o uso associado do exame Papanicolaou e do teste de captura hídrica digene, que identifica a presença do Papilomavírus humano (HPV), pode evitar a maioria dos casos da doença.

É compreensível. O HPV é o principal causador da doença. O problema é que pode levar mais de uma década para a transformação de células normais infectadas pelo HPV em lesões cancerosas. Nesse período, a doença não apresenta sintomas. E o exame Papanicolaou só a detecta quando ela já manifesta as primeiras lesões no colo do útero. É aí que o teste de captura híbrida digene pode trazer vantagens. O exame rastreia a presença do HPV e sua tipagem (existe mais de uma dezena de tipos cancerígenos) antes do surgimento dos sinais. Nesse caso, a paciente faz uma colposcopia, exame que descobre eventuais lesões incipientes que podem ser eliminadas pela cauterização ou removidas cirurgicamente. Na maioria dos atendimentos, esses cuidados afastam o risco de câncer. Se não houver lesão, a mulher deve ser acompanhada de perto pelo médico.
No estudo gaúcho, os dois métodos – Papanicolaou e Captura Híbrida

– foram aplicados. Constatou-se a presença dos HPV oncológicos em 12,8% das duas mil mulheres examinadas. Em boa parte desses casos, as defesas do corpo impedirão a progressão do vírus no organismo. Têm maiores chances de manifestar o problema mulheres que convivem por tempo prolongado com os vírus de alto risco para o câncer. Hoje, o exame genético do HPV é feito a pedido dos médicos para elucidar resultados suspeitos do exame Papanicolaou. “É um teste complementar ao Papanicolaou que pode beneficiar especialmente mulheres no início da vida sexual, que podem estar contaminadas sem saber”, avalia o médico Thomaz Gollop, ginecologista e especialista em genética. O exame Papanicolaou custa cerca de R$ 40 nos consultórios particulares e a captura híbrida digene, em média, R$ 190.