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TRANSFORMADAS
Ratinhas tiveram gene desativado e células se tornaram masculinas

Todos os dias, desde o nascimento até o fim da vida, o corpo humano é cenário de uma árdua batalha interna. Os protagonistas dessa guerra são os genes do sexo masculino e feminino. Eles lutam por supremacia territorial. Essa intrigante afirmação surgiu após a conclusão de um estudo pioneiro conduzido pelo Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL, na sigla em inglês), em Heidelberg, na Alemanha. Até então, achava-se que, uma vez determinado nosso sexo, ainda no embrião, este predominava absoluto. Não é bem assim. Os cientistas do EMBL conseguiram provar que a definição do gênero faz parte de um processo mais complexo. Eles transformaram ratos fêmeas em machos por meio de uma alteração genética. Graças a uma técnica especial, os pesquisadores conseguiram desativar o gene Foxl2, presente nas células do ovário. Em dois dias, as células que guardam os óvulos em maturação e produzem hormônios femininos adquiriram características das células masculinas presentes nos testículos.

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Embora as ratinhas tenham se transformado em ratos estéreis, elas passaram a ter níveis de testosterona iguais aos dos machos – 100 vezes mais altos do que os normalmente encontrados em fêmeas. O que a ciência acreditava, até então, era que, para ser considerado do sexo masculino, um indivíduo teria de ter o gene Sry, encontrado no cromossomo Y, exclusivo dos machos. As cobaias, por serem fêmeas, não tinham este gene – e mesmo assim adquiriram características masculinas. A descoberta sugere que a definição entre macho e fêmea é bem mais complexa do que a simples presença de um gene. “Se for possível fazer essas mudanças em humanos adultos, poderemos um dia, quem sabe, descartar a necessidade de cirurgia em tratamentos de mudança de sexo", disse à ISTOÉ o geneticista Robin Lovell-Badge, coautor do estudo e membro do Instituto de Pesquisa Médica de Londres. “Mesmo aquelas que passassem por cirurgia produziriam os hormônios certos de seu novo sexo e não teriam de tomá-los em forma de droga, como acontece hoje.” A pesquisa trata apenas da mudança do sexo feminino para o masculino, e não o inverso, já que transformar uma fêmea em um macho – seja um ser humano, seja um rato – é muito mais complexo. Segundo estudo de 1996, publicado no “British Journal of Sexual Medicine”, a cirurgia para transformar uma mulher em homem é bem mais complicada do que a que faz a mudança de homem para mulher. Mais do que atender as pessoas que querem mudar de sexo, porém, o estudo pode solucionar outros mistérios da biologia humana.

“Este trabalho pode ajudar a descobrir por que algumas mulheres, na menopausa, desenvolvem características masculinas, como pelo no rosto e voz grave”, diz Lovell-Badge. Ao perceber como funciona a regulação das características femininas e masculinas, abre-se caminho, ainda, para a terapia genética em crianças que nascem com características dos dois sexos: os hermafroditas. A nova pesquisa alerta, ainda, para algo instigante, do ponto de vista científico, e polêmico, do ponto de vista humano: a maior parte das descobertas ainda pode estar por vir.

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