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Três dias depois de contabilizados os votos da eleição municipal, na quarta-feira 8, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a seus ministros que não participem das campanhas políticas fora de seus Estados. A ordem tinha como foco principal as cidades de Belo Horizonte e Salvador, dois dos quatro principais colégios eleitorais do País. Nas duas capitais, as atuações de ministros peemedebistas nas semanas que antecederam o primeiro turno foram decisivas para uma reversão no quadro eleitoral e colocaram em rota de colisão o PT e o PMDB, principal partido da base governista. O que o presidente teme é que a disputa municipal possa provocar fissuras que comprometam a aliança nacional.

Em Minas, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, contrariando todas as pesquisas, conseguiu "azedar" o pão de queijo do governador tucano Aécio Neves e levou o deputado Leonardo Quintão (PMDB) para o segundo turno. O governador e o prefeito Fernando Pimentel (PT) inventaram a candidatura de Márcio Lacerda (PSB) e davam como certa a vitória da criatura já no domingo 5. Na Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, mergulhou de corpo e alma na campanha à reeleição do prefeito João Henrique, conseguiu tirar do páreo o deputado ACM Neto (DEM) e agora irá enfrentar o petista Walter Pinheiro, apadrinhado do governador Jaques Wagner, um dos principais interlocutores do presidente. "Não vou passar nem pelo espaço aéreo de Salvador", prometeu a ministra Dilma Rousseff em conversa com Geddel depois do encontro com Lula. Na noite da quartafeira, o presidente jantou com a cúpula do PMDB no Palácio da Alvorada e disse que não pretende entrar nas campanhas onde estejam se digladiando aliados do governo. Em troca, Lula pediu que tanto Geddel como Costa não façam ataques ao PT e aos candidatos petistas. Trata-se de um compromisso difícil de ser cumprido.

A disputa que mais deixa o Palácio do Planalto apreensivo é a de Salvador. Na terra dos orixás, o ministro Geddel e o governador Jaques Wagner, tão logo terminado o primeiro turno, deram mostras de que não há lugar para santo na briga baiana. O ministro, principal coordenador da campanha do candidato do PMDB, bateu boca publicamente com o governador, até então aliado, fiador da aliança PT e PMDB no Estado e um dos padrinhos de sua indicação ao Ministério. Depois de o ministro reiterar que não abriria mão de exercer papel relevante na campanha do atual prefeito, Jaques Wagner contra-atacou: "Se o ministro entrar na campanha, está liberando qualquer outro ministro para entrar também. E se ele entrar como representante do Lula, entrarei também, engajado como governador na campanha de meu candidato", afirmou.

O governador queria que ele e o ministro se mantivessem eqüidistantes da disputa. Geddel o acusou de ter abandonado "aos 46 minutos do segundo tempo" a gestão de João Henrique, na tentativa de jogar para o petista a responsabilidade pela implosão da aliança entre PT e PMDB na Bahia. A declaração caiu como uma bomba. A interlocutores, o governador disse que Geddel "deixou de ser um parceiro confiável".

Em Belo Horizonte, o ministro Hélio Costa foi um dos responsáveis pelo sucesso da campanha do azarão Leonardo Quintão. Apontado como uma das grandes surpresas do primeiro turno, Quintão conquistou mais de 519 mil votos – apenas 30 mil a menos que Lacerda -, graças ao seu desempenho no horário eleitoral gratuito cuja produção foi coordenada por Costa, jornalista e ex-apresentador da Rede Globo.

"Para mim não foi uma surpresa. Quintão sempre teve conteúdo e irá disputar o segundo turno com chances de vitória", disse o ministro. Acontece que o prefeito petista Fernando Pimentel conta com a eleição do candidato do PSB para turbinar um projeto pessoal: ser eleito governador de Minas em 2010. Mas o ministro das Comunicações promete não medir esforços para que Quintão conquiste a prefeitura. Durante a semana, gastou horas ao telefone tentando amealhar apoios no governo federal. Falou com o vice, José Alencar, e os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci. Saiu convencido de que o candidato do PMDB receberá pelo menos o apoio informal dos dois ministros petistas.

ENQUANTO ISSO, DI LMA …
Ao contrário dos colegas Geddel Vieira Lima e Hélio Costa, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, preferida do presidente Lula para a sucessão de 2010, não se saiu bem no primeiro turno da disputa municipal. Seu apoio não rendeu frutos. Em Curitiba, capital em que fez campanha para ajudar na eleição à prefeitura de Gleisi Hoffmann (PT), mulher do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a ministra levou uma sova.

O tucano Beto Richa foi eleito com 77,27% dos votos e Gleisi não passou de 18,17%. Em Porto Alegre, Dilma também subiu no palanque, mas a petista Maria do Rosário chegou ao segundo turno contra o prefeito José Fogaça (PMDB), sem grande ilusão de sair vitoriosa. O peemedebista obteve 43,86% contra 22% de Rosário. Embora tenha apoiado Maria do Rosário, a deputada federal não era a candidata do coração de Dilma.

Em março, nas prévias do PT para decidir o candidato à Prefeitura de Porto Alegre, Dilma apoiou o exministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto. Ao defender que ainda não era a hora de Maria do Rosário, afirmou que em política existe "fila". Foi derrotada pelas bases do PT: Rosário conseguiu 2.193 votos contra 2.137 de Rossetto.