Foi um golpe de mestre. Enquanto a Ford e a DaimlerChrysler insistiam na compra total da Fiat, uma proposta que desagradava à família Agnelli, dona da montadora, e aos italianos em geral, a General Motors correu por fora e deu o bote. O mérito da GM foi reconhecer que uma aquisição de 100% da Fiat, o maior orgulho da indústria italiana, dificilmente sairia do papel. “Continuamos autônomos, mas com um grande aliado”, disse em tom triunfal o presidente de honra, Gianni Agnelli, 79 anos, neto do fundador do Grupo Fiat SpA, após a assinatura do acordo.

A GM comprou 20% da fábrica italiana, que por sua vez levou 5,1% da gigante americana da indústria automobilística, numa transação de US$ 2,4 bilhões. É uma oferta generosa. A divisão de automóveis da Fiat é deficitária, sofre com a falta de alcance global e com a forte concorrência em seu principal nicho, o de veículos pequenos na Europa. Para alívio dos italianos, duas marcas legendárias de propriedade da Fiat ficaram fora do acordo: Ferrari e Maserati, assim como todas as outras atividades do grupo não ligadas a automóveis, que vão de tecnologia aeroespacial a design industrial.

No contrato, também está definido que a GM terá a preferência pela compra dos 80% das ações restantes a partir de 2004. Essa foi a grande cartada da GM. “Os americanos fincaram uma base na Fiat. Agora é questão de tempo para que eles comprem tudo e consolidem a sua liderança mundial”, avalia o consultor e professor da Fundação Getúlio Vargas, José Roberto Ferro. Com a Fiat sob seu guarda-chuva, a General Motors será responsável por quase um quarto dos 58 milhões de carros produzidos anualmente no mundo (leia quadro).

Cálculos – A mobilização das três maiores montadoras americanas pela Fiat Auto se justifica. Quem a controlar somará mais 2,6 milhões de carros a sua produção. Com isso, a Ford passaria das 7,8 milhões de unidades produzidas para 10,4 milhões, desbancando a GM, que hoje fabrica 8,5 milhões. Para a DaimlerChrysler, que produz 4,9 milhões de automóveis/ano, a compra da Fiat significaria passar para o terceiro lugar no ranking, com 7,5 milhões de unidades, à frente da Toyota. Caso a GM comprasse integralmente a Fiat, sua produção subiria para 11,1 milhões de unidades/ano.
A aliança prevê, além da troca de ações, a criação de joint ventures (cada empresa com 50%) para gerir, na América Latina e na Europa, as atividades de compra, produção e desenvolvimento de motores e transmissões e administração de financiamentos de automóveis. Espera-se uma economia da ordem de US$ 2 bilhões a partir do quinto ano dessa unificação. Segundo Gianni Coda, superintendente da Fiat no Brasil, no futuro, as empresas deverão compartilhar plataformas na produção de carros com as marcas Fiat e GM.