O índio Thini-á, da tribo fulni-ô, em Pernambuco, deixou seu povo em 1985, abalado com um massacre que matou vários parentes, inclusive seu pai. O fato, abafado na época, aconteceu sob o comando de fazendeiros de gado, por causa da descoberta de ouro na região. Thini-á queria aprender melhor o português para entender por que o homem branco causava tanta destruição. Depois de cursar o segundo grau em Brasília e de estudar Cinema durante dois anos na USP, ele está realizando seu objetivo: ensinar a cultura indígena às crianças da cidade grande. Até o dia 30 de abril ele estará dando o curso 500 anos de resistência das populações indígenas no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. “A única esperança que tenho é no homem de amanhã.”
A forma amarga como se refere à dita civilização é apenas um reflexo do que o próprio Thini-á sofreu na pele. Os 3.500 índios da tribo fulni-ô (gente que mora junto ao rio) tiveram seu primeiro contato com os portugueses há cerca de 450 anos. Os problemas começaram a surgir quando o padre João Rodrigues Cardoso pediu para construir uma igreja no centro da aldeia, há 250 anos. Daí surgiu a cidade Águas Belas, que expulsou os índios de sua própria terra e criou um conflito permanente na área. O quadro se agravou com a descoberta de ouro. “O índio não tem nada para comemorar os 500 anos. Só aproveito a data para divulgar nossa cultura”, esclarece.

Thini-á se mudou para Brasília aos 15 anos, em 1994 foi para São Paulo e vive no Rio há dois anos. Sua maior dificuldade de adaptação são os horários. “Depender do relógio é uma escravidão”, se queixa. “E ainda é preciso calcular o tempo do engarrafamento! É muito confuso!”, protesta. Thini-á não tem a menor dúvida de que a felicidade está nas coisas mais simples, assim como é simples a natureza. Para ele é muito difícil ser feliz em uma sociedade que trabalha todo dia para pagar as contas. “O sistema não deixa o homem pensar em si”, analisa.

O que o mantém na civilização é a vontade de aprender e ensinar, para mais tarde poder voltar ao convívio dos fulni-ô. Sua gente é de temperamento guerreiro e religioso. A principal filosofia é viver aqui e agora. “Não há a idéia de domínio ou de traição”, ensina. Para Thini-á (estrela, em seu idioma), o que manteve vivo e unido seu povo foi a escola da aldeia ensinar a língua nativa yathé, do tronco macro-gê, além do português. E sobretudo a manutenção do costume da tribo de passar três meses do ano embrenhada nas matas, vivendo como há 300 anos. “É um ritual de purificação, que não mostramos para ninguém.”