Lembra daquela luminária vermelha, da cortina cor de laranja e do sofá azul-turquesa que há tempos você mandou para o depósito? Pode trazê-los para a sala de novo. Neste ano, a ordem é trocar os pálidos branco total, cru, marfim e preto por peças bem-humoradas, que acrescentem um pouco de luz, cor ou quem sabe personalidade aos ambientes. Algo impensável desde que o mobiliário ecológico, o aço escovado e o estilo minimalista invadiram as casas dos brasileiros, nos anos 80. A tendência, importada de Milão e Londres, pôde ser notada no último Salão Internacional de Decoração, Arquitetura e Design (DAD), realizado na semana passada em São Paulo. Ao lado de projetos para pequenos espaços e escritórios domésticos, os arquitetos e designers começam a preocupar-se em criar acessórios para a casa e peças de mobiliário em cores vibrantes.

Famosa por suas esculturas e luminárias em vidro e cristal soprado, a artista plástica Jacqueline Terpins exibiu no DAD sua primeira linha de estantes, racks e mesas de centro e puffs. A série Pixels mereceu destaque pelo material utilizado – o mais puro cristal, empilhado em forma de cubos de 50 cm de lado – e também por combinar transparência e cores vibrantes como vermelho, verde e azul-marinho. Jacqueline afirma que as cores personalizam a decoração. “Com elas, eu consigo o melhor do vidro. É como se você de fato colocasse uma luz no meio da casa.”

Até para se diferenciar, profissionais como o arquiteto João Armentano propõem algo mais pop. Antigo defensor do estilo clean, ele confessa que nos últimos tempos não suportava a palidez do próprio apartamento. “Tenho certeza de que, como eu, muita gente já está cansada: você vê uma vitrine em Nova York, abre uma revista, vai à casa da vizinha e parece que não saiu do lugar. Tudo neutro, preto, cru.”

Tubinho – Da mesma forma como, há cinco anos, Armentano cortou um dobrado para convencer clientes a adotar a decoração monocromática, hoje os instiga a ousar com as cores da natureza. Recentemente, colocou persianas verde-limão num loft de solteiro e um tapete azul-royal no apartamento do apresentador Luciano Huck, em São Paulo. Para justificar a mudança, ele sai com o discurso de que a função do designer é apontar novas tendências. “O sofá branco virou o tubinho preto da decoração. Todo mundo usa e isso é muito chato.”

A empresária paulista Denise Tarantino, 38 anos, concorda com o arquiteto. Em 1996, ela decidiu criar uma decoração bem-humorada para a sua sala comprando um sofá pink, quase carmim, e outro amarelo. Um pequeno puff azul-marinho e almofadas roxas completaram o ambiente, “fazendo com que tudo combinasse ainda mais”. Denise sempre adorou objetos coloridos e, alheia a modismos, nunca pensou em trocá-los. “Meu sofá amarelo é bom para deitar e o pink dá vontade de comer”, diverte-se. Ela jura que os amigos não estranham sua preferência pelos tons vibrantes. “Cor dá vida ao ambiente”, afirma Denise.

Para o casal Eduardo Pires Fakiani, 38 anos, e Licibety Fakiani, 26, ele cirurgião plástico, ela advogada, uma sala de estar monocromática não diz nada. Ao se casar, eles pediram que o arquiteto Júlio Pechman decorasse seu apartamento de 280 metros quadrados de maneira menos óbvia. E ficaram satisfeitos com a cortina vermelha no quarto, a parede do living pintada de azulão e sofás em tons de verde e azul. “Não queríamos uma casa igual a dos outros”, diz Eduardo. “Usar um begezinho seria cair no lugar-comum.”

Personalidade – Hoje, até as casas da fazenda e de praia dos Fakiani têm uma ambiente de cada cor. Eles acreditam que assim conseguem imprimir sua personalidade aos lugares que escolheram para descansar. Isso porque ninguém elege para dentro de sua casa um tom de que não goste realmente.
A volta da cor na decoração surgiu da necessidade de se criar algo novo para estimular o consumo. Mas muita gente ainda resiste ao novo padrão. Em lojas de decoração como a Tok & Stok e a Benedixt, de São Paulo, é possível encontrar sofás-camas amarelos, luminárias italianas em cores cítricas e cadeiras de plástico que parecem feitas de néon. No entanto, grande parte dos artigos em estoque ainda segue o estilo monocromático e funcional que os modernos desdenham. Segundo Estela Martucci, gerente da Firma Casa, também em São Paulo, alguns clientes acham arriscado investir numa peça cara de cor forte. “Eles dizem que é complicado combinar com o que já têm em casa”, afirma.

A arquiteta Brunete Fraccaroli avisa que tons coloridos podem se tornar cansativos se não utilizados com critério. Para não correr o risco de cometer exageros, ela aconselha optar pelo uso da cor em pequenos detalhes, como uma cadeira, um vaso ou uma mesa de centro em meio aos clássicos sofás brancos de couro. “A indústria lança muitas possibilidades, mas o consumidor deve pensar no conforto. O importante é se sentir bem na própria casa.”