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Foi-se o tempo em que juntar milhas significava apenas a chance de fazer uma nova viagem aérea. As companhias ampliaram seus programas de fidelidade, uniram-se a parceiros de diversas áreas e passaram a oferecer, em troca dos pontos acumulados, uma ampla variedade de produtos e serviços. Alguns bilhetes da boa e velha ponte aérea podem valer eletrodomésticos, brinquedos, roupas, acessórios esportivos, perfumes e até crédito em cartões de pagamento. Há alguns dias, outra novidade chegou a esse mercado. O programa Smiles, ligado à Gol, passou a permitir o repasse de milhas para terceiros. A mudança tem como objetivo diminuir o número de milhas não utilizadas pelos passageiros (por ano, segundo números da Gol, cerca de cinco bilhões delas deixam de ser trocadas) e coibir o mercado paralelo. “A venda ilegal é prejudicial para as companhias aéreas”, diz Leonel Andrade, CEO do Smiles.

Um levantamento feito por ISTOÉ mostra como as milhas se tornaram moedas de troca vantajosas. Pelo programa Multiplus, da TAM, uma única viagem à Europa garante pontuação suficiente para o passageiro ter direito a um telefone sem fio, e ele ainda fica com um belo troco de mais de 1.000 pontos. No Smiles, da Gol, uma viagem aos Estados Unidos pode equivaler a um crédito de R$ 300 no Paypal, maior empresa de pagamento digital do mundo.

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Daniel Mazotti sabe bem como aproveitar as ofertas. A grande quantidade de viagens que realizava a trabalho lhe rendeu pontos que foram trocados por relógios e acessórios para a prática de esportes radicais. “Com o tempo, fui aprendendo a ganhar milhas”, diz.“Às vezes empresto o meu cartão de crédito para amigos justamente para acumular mais pontos.”

Uma das dificuldades enfrentadas pelos consumidores é a diferença de regras entre as empresas e o enorme leque de opções oferecido pelas bandeiras de cartões de crédito, que se tornaram ferramentas importantes para o acúmulo de pontos. A padronização das normas é uma tendência para o futuro. Há dois meses, a Smiles ingressou na Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), o que significa um primeiro passo para alinhar as regras do setor. “Não existe uma regulamentação clara, mas isso pode mudar”, diz Leonel Andrade, da Smiles. Uma das possibilidades de mudança é que o setor seja regulado pelo Banco Central, a exemplo do que acontece em diversos países. Isso propiciaria maior segurança aos consumidores. “Os problemas existem, mas já foram piores”, diz Selma Amaral, diretora de atendimento do Procon São Paulo.

O mercado de milhas cresceu tanto nos últimos anos que se tornou atraente para jovens empreendedores. Há alguns meses, o estudante de engenharia José Arivar se uniu a quatro amigos para montar a plataforma online Supreme Points, que funcionará a partir do primeiro trimestre de 2014 e conectará vendedores e compradores de milhas em potencial, sem que os dados pessoais tenham de ser expostos. O projeto surgiu com os obstáculos que o jovem, que viaja com frequência para o Exterior, enfrentou para entender as pontuações das empresas aéreas e decidir pelas melhores ofertas, tanto na hora de comprar passagens quanto na hora de trocá-las por produtos e serviços. “Queremos transformar nossa dificuldade em uma oportunidade”, diz Arivar. “As promoções variam diariamente e há muitos detalhes para a pessoa usá-las bem. Queremos ser um canal de informação que facilite o uso das milhas.” 

Montagem sobre foto shutterstock; Jorg Hackemann/shutterstock