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A vacina usada contra a tuberculose, a BCG, é uma das fortes apostas da ciência para combater os danos cerebrais provocados pela esclerose múltipla, doença degenerativa do sistema nervoso central que afeta pelo menos 2,5 milhões de pessoas no mundo. Resultados de um estudo realizado em quatro centros italianos com pacientes que apresentavam sinais precoces da doença – como dormência em partes do corpo ou falta de equilíbrio – indicaram que o imunizante ajuda a bloquear a progressão dos sintomas.

Dos 82 voluntários que participaram do estudo, todos com alto risco de apresentar a doença no futuro após terem tido um primeiro surto (uma situação identificada como síndrome clinicamente isolada), metade tomou a vacina, enquanto os outros receberam placebo. Por seis meses, o grupo completo foi submetido a exames de imagem mensais para verificar a existência de danos neurológicos. No final, a média de lesões encontrada nos indivíduos não vacinados era praticamente o dobro do que se viu naqueles que tomaram o imunizante.

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Depois, os dois grupos foram tratados com remédios específicos (imunomoduladores) para controlar sintomas, reduzir a inflamação que permite o avanço da doença e o risco de sequelas. As conclusões do estudo, recentemente publicado pela revista “Neurology”, revelam que, cinco anos depois, 58% das pessoas vacinadas não manifestaram o quadro clássico da doença. No grupo não vacinado, essa proporção foi de 30%. “O trabalho sugere que a associação da vacina após o primeiro episódio da doença com o tratamento convencional pode alterar positivamente o curso da doença. Isso foi demonstrado estatisticamente de forma significativa”, diz o neurologista Rodrigo Thomaz, do Centro de Esclerose Múltipla do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Embora os mecanismos de ação da BCG contra a doença ainda não estejam claros, ela foi selecionada para o teste por alguns motivos. Já havia um estudo piloto demonstrando que era segura e possivelmente eficaz contra novas lesões. Também existiam dados de que poderia diminuir, a longo prazo, os danos neurológicos que podem conduzir, por exemplo, à perda da mobilidade.

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Os resultados são promissores, mas os médicos preferem cautela. “Trabalhos com mais pacientes são necessários para que o tratamento seja recomendado”, diz Rodrigo Thomaz. Concorda com ele Giovanni Ristori, pesquisador da Universidade de Sapienza, em Roma, que liderou a pesquisa. “Os médicos não devem começar a usá-lo para tratar a esclerose ou a síndrome clinicamente isolada. Precisamos saber mais sobre os efeitos de segurança a longo prazo dessa vacina”, alertou.  

Foto: Rogerio Albuquerque