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SEM IMAGENS
Com o satélite em órbita, Brasil não precisaria mais comprar fotos da Amazônia

Anomalia”, “fato inesperado” e “baita azar”: assim líderes do Programa Espacial Brasileiro e especialistas em engenharia aeroespacial definem a falha no lançamento do satélite CBERS-3, na segunda-feira 9. O aparato, construído em parceria por Brasil e China, até chegou ao espaço, mas não conseguiu manter a órbita após a interrupção precoce na queima do último estágio do foguete Longa Marcha 4B, feito pelos chineses (confira infográfico). As causas do problema ainda são investigadas. O satélite, que faria monitoramento por imagens do território nacional, era um aguardado substituto para o CBERS-2B, que deixou de operar em 2010. Desde então, o Brasil compra de outros países as fotos de que precisa para controlar a atividade agrícola e o desmatamento da Amazônia. Antes desse fracasso, o mesmo tipo de foguete havia feito 19 lançamentos bem-sucedidos, colocando 34 satélites em órbita.

O prejuízo financeiro é relativamente fácil de calcular: R$ 160 milhões, correspondentes à parte brasileira do satélite, além de R$ 34 milhões gastos no lançamento. Os pesquisadores temem, no entanto, que a imagem do Programa Espacial Brasileiro seja, mais uma vez, arranhada, justamente quando ele começa a se recuperar da tragédia de Alcântara (MA), em 2003, quando 21 pessoas morreram no acionamento acidental dos motores do foguete VLS (confira quadro). “A perda de uma unidade não é a perda de todo o programa”, diz Petrônio de Souza, diretor de política espacial e investimentos estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB). “Os investimentos em desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e qualificação de pessoal permanecem, mas é claro que, quando algo falha, as pessoas começam a procurar culpados.”

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 O projeto do CBERS, sigla em inglês para satélite sino-brasileiro de recursos terrestres, é considerado o mais importante dentro das ambições espaciais do País. “As câmeras desse satélite são tão avançadas que o Brasil nem sequer tinha a competência para fabricá-las”, diz Carlos Alexandre Wuensche, chefe de gabinete do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Essa tecnologia precisou ser desenvolvida aqui dentro, e é difícil colocar um preço nisso.” O próximo satélite do tipo, o CBERS-4, deve ter lançamento antecipado de 2015 para 2014, segundo a AEB. Em meio à frustração pela perda do CBERS-3, cujo projeto atrasou três anos, os brasileiros encontram consolo no fato de que, durante os minutos em que esteve no espaço, o satélite fez tudo o que deveria fazer. “Ele abriu o painel solar, apontou e calibrou as câmeras”, diz Wuensche, do Inpe.

Para Othon Winter, professor da faculdade de engenharia da Unesp e especialista em tecnologia aeroespacial, o fracasso recente serve de recado para que o Brasil invista também em um veículo próprio de lançamento. “Se dominarmos a tecnologia para colocar satélites no espaço, existe um mercado bilionário pronto para ser explorado”, afirma. A decolagem de um novo VLS 100% nacional, no entanto, só deve acontecer em 2016. Isso, é claro, se não dermos azar.

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Foto: Divulgação / INPE


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