A maior atração em cartaz nos cinemas londrinos é um épico produzido há 34 anos, que nos últimos tempos estava confinado à modorrenta programação vespertina das emissoras de tevê. O motivo para o renascimento do musical A noviça rebelde, de 1965, estrelado por Julie Andrews, remete aos mesmos apelos do hipersucesso do cultuado The Rocky horror picture show. Ao longo de quatro horas os espectadores são incentivados a cantar, gritar, dançar e até trajar as mesmas roupas dos personagens da tela. A idéia de apresentar o filme com subtítulos para estimular as pessoas surgiu no início deste ano, durante um festival de cinema gay realizado na capital britânica como lembra o produtor teatral David Johnson, que concebeu o atual evento. "Eu tinha certeza de que a proposta de montar um cinema karaokê era estimulante", disse ele a ISTOÉ. "Grupos de aposentados vinham fazendo isso há muitos anos, mas hoje o interesse do público em geral surpreendeu a todos nós. No início, a maioria dos espectadores era homossexual, mas agora é uma mistura total, com gays e heteros jovens, idosos, ingleses e turistas que estão a fim de se divertir." E sem problemas financeiros, afinal o ingresso custa cerca de R$ 30, mais caro que o do cinema convencional.

Para quem se dispõe, contudo, vai encontrar dentro do cinema Prince Charles, localizado há poucos metros de Leicester Square, no centro de Londres, muito barulho e irreverência, mas sem baixarias. Um dos "ataques" preferidos da platéia é vaiar os nazistas e a baronesa antipática. Em compensação, quando Julie Andrews solta os pulmões em The hills are alive with the sound of music a empolgação toma conta de todos. Laura Hicks, 25 anos, que junto com a amiga Louise Kelly, 23, era uma das "freiras" mais animadas durante uma apresentação na semana passada, diz que nem se lembrava mais da história de A noviça rebelde, mas assim que soube da novidade colocou a imaginação para funcionar. "Arrumei uma cortina velha e me transformei nessa maravilhosa noviça virgem e promissora", disse ela.

Laura e Louise estavam entre as muitas que se divertiam com o concorrido concurso de fantasias comandado no intervalo do filme por um comediante. Nestas ocasiões, várias pessoas desfilam com trajes típicos da Áustria – bermudas com suspensórios de couro – e com vestidos parecidos com os de Julie Andrews. Diante do sucesso da empreitada, e já de olho em outros países, os organizadores se apressaram em registrar a idéia sob o nome Sing-a-long. As apresentações do cine karaokê, que deveriam terminar nesta semana, foram estendidas pelo menos até o final do ano, sempre às sextas-feiras à noite. Há ainda planos semelhantes para outros filmes como Nos tempos da brilhantina, estrelado por John Travolta e Olivia Newton-John.