Diretores de banco, empresários, seguranças de artistas famosos e mortais comuns estão envolvidos, como clientes, num lucrativo esquema de venda de portes de arma. A quadrilha, que acaba de ser desmantelada, tinha como chefe um delegado da cúpula da Polícia Federal, que ao ser descoberto preferiu pedir a aposentadoria. Ela envolve ainda agentes lotados em Ribeirão Preto e uma empresa de segurança da capital paulista, que agenciava os clientes e tinha até um "book" com cópias de portes expedidos para convencer os clientes de que eram "quentes". Cada porte custava entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil.

Tudo começou a ser descoberto quando um empresário procurou um delegado da PF, seu amigo, para saber se o porte de arma que usava era autêntico. Ele contou que havia pago R$ 3 mil pelo documento, que lhe fora entregue em apenas 20 dias, sem que tivesse de se submeter ao exame psicotécnico e ao teste de tiro e manuseio. Disse que quem providenciara tudo fora a empresa Etimar Comércio de Equipamentos de Segurança, com sede na avenida Cásper Líbero. Acrescentou que apenas assinara formulários em branco, pagando a metade da importância combinada. Uma equipe foi ao local, onde descobriu que a empresa pertence a Eti Silva Ribeiro, 29 anos. Ela não se encontrava no local, mas os policiais apreenderam documentos e formulários da PF para a obtenção de porte, um arquivo com os nomes de mais de 100 clientes e um livro com reproduções de pelo menos 300 portes de arma expedidos através do esquema fraudulento. Os agentes prenderam em flagrante o gerente da empresa, Paulo Rogério Rodrigues, 23 anos, sobrinho da proprietária.

Investigando todos os portes expedidos através da Etimar, os policiais descobriram que laudos de psicoteste de manuseio de armas tiveram as assinaturas dos examinadores falsificadas. As investigações chegaram até o delegado Nascimento Paulino, que naquele momento ocupava o cargo de coordenador de Planejamento do Departamento da PF. Era Paulino, apurou ISTOÉ, que encaminhava os processos para a confecção dos documentos. Confrontado pelas provas, Paulino que poderia vir a ser exonerado, preferiu pedir a aposentadoria prematura, mas isso não o livra de punição. Se condenado por meio de sindicância interna, ele poderá ser reconduzido ao cargo para posterior exoneração, sem prejuízo do processo criminal a que estará sujeito.


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