Foi na Igreja das Almas, na Ponte Pequena, em São Paulo, que grupos de corticeiros começaram a se reunir há 12 anos para tentar resolver seus problemas de moradia. Entre eles estava Luiz Gonzaga da Silva, um paraibano de Catolé do Rocha conhecido como Gegê e irmão do cantor e compositor Chico César. Gegê militou na luta armada contra a ditadura e também se escondia atrás de nomes como Ubiratan, Sabiá e Negrinho. Com sua experiência no PCBR, ALN e MR-8, fundou o Movimento de Moradias do Centro (MMC). Desde então, seu lema vem sendo ocupar prédios na maior cidade do País e resistir para pressionar as autoridades a transformar os imóveis em habitações populares. "Posso apontar mais de 300 prédios abandonados, ociosos, degradados, só na região central, que podem ser transformados em habitações populares", contabilizou Gegê. "Há dois anos, levamos uma lista de 96 deles abandonados, mas não está fácil resolver o problema. A intenção do governo é sempre levar o pobre para a periferia da periferia."

O irmão de Chico César já promoveu quatro grandes ocupações. Desde dezembro de 1997 lidera com mão-de-ferro 85 famílias em um prédio de 12 andares da Secretaria da Cultura, na rua do Ouvidor, 63, Centro. Segundo ele, o prédio estava abandonado há oito anos. Para a segurança dos moradores e sobretudo para afugentar os marginais da região, há porteiro 24 horas por dia. As regras de comportamento interno implantadas pelo ex-guerrilheiro também são seguidas à risca pelas famílias. Gegê é filho de camponeses e estudou até o 1º colegial. Chegou em São Paulo em março de 1974, mas como a maioria dos migrantes foi trabalhar na construção civil e morar em cortiços. Com 50 anos, Gegê ainda acredita no poder das armas. "A revolução armada é a saída para o Brasil." Em setembro de 1998, o ex-guerrilheiro investiu contra um prédio da Caixa Econômica Federal, situado na rua Floriano Peixoto, 60, com a rua Roberto Simonsen, no Pátio do Colégio. Atualmente 43 famílias residem no local. A mais recente ocupação liderada por ele aconteceu em agosto, numa sexta-feira 13, quando Gegê levou para dentro de um prédio do Banco Nacional (que foi vendido para o Unibanco no início do governo de FHC) 150 famílias. Ele explica a crescente onda de invasões. "Hoje você vê ex-bancário, ex-metalúrgico da Ford e da Volks participando das ocupações. Eu prefiro mil vezes uma ditadura como a de Fidel Castro do que uma democracia como a nossa, onde o povo é jogado diariamente na sarjeta", disse ele.