O Projeto Axé é uma das organizações não-governamentais mais elogiadas no Brasil e no Exterior por causa do sucesso de seu método para retirar crianças das ruas. Agora, o Axé inova mais uma vez: é a primeira ONG a dirigir uma escola pública no Brasil, com um currículo voltado para as artes e uma metodologia especial para atrair meninos de rua e crianças de comunidades pobres. A escola se chama Ilê Ori (casa da cabeça, na língua africana Iorubá) e será inaugurada oficialmente no dia 10 de setembro. Vai receber 1.260 alunos. À noite, será uma escola formal, só que para os pais dos estudantes. A Ilê Ori nasceu de uma parceria com a Prefeitura de Salvador, que forneceu os nove professores e dois diretores da rede pública. Eles foram treinados pelo Axé para lidar com crianças que recusam os métodos tradicionais da escola pública. Foi construído um moderno prédio, com 12 salas de aulas, quadras de esportes, biblioteca e espaços de lazer, com recursos que vieram da prefeitura (R$ 341 mil) e do governo federal (708 mil).

Há quatro meses, a escola começou a funcionar, ainda precariamente, num espaço alugado no bairro de São Cristóvão, uma das áreas mais pobres de Salvador. Já estão em aulas 225 alunos, grande parte em classes de aceleração, como Edvaldo Lima, 18 anos, ainda na quinta série. Ex-menino de rua, hoje ele toca percussão na Bandaxé – um grupo criado no projeto –, e ensina música a outras crianças. "Minha vida mudou muito. Agora, quero tirar o diploma, conseguir a carteira de músico e virar profissional." Na Ilê Ori, os alunos já têm atividades complementares, como música, dança e teatro. "Estamos dando uma reviravolta na prática pedagógica da escola, centrando o trabalho na cultura e na arte para ter a cara da Bahia", orgulha-se a secretária de Educação de Salvador, Dirlene Mendonça.

O Axé sonhava com o projeto há cinco anos. "Era facílimo montar nossa própria escola. Seria uma ilha de felicidade. Mas muito mais difícil é abrir uma brecha no sistema e contaminar, através da sua própria experiência pedagógica, o sistema público de ensino", ressalta o educador Cesare De La Rocca, presidente do Axé. "É uma ameaça para o poder público e também uma ousadia da sociedade civil meter o bico no sistema de educação. Mas um vai aprender com o outro."