Quem achou que já tinha visto tudo no escândalo da máfia da propina em São Paulo mais uma vez foi surpreendido, na quarta-feira 1º, com a chantagem explícita feita pelo vereador José Izar (PFL), quando era votado na Câmara Municipal o seu pedido de cassação. Denunciado por envolvimento no esquema de corrupção, Izar fez, em plenário, um discurso ameaçador. Disse ter "35 amigos" vereadores "na mão" e lembrou não ter votado a favor de uma nova CPI sobre o caso "para os senhores não passarem o que passei e não sofrerem o que estou sofrendo". E continuou: "Minha mão deve ser uma mão de gigante, porque eu tenho mais ou menos 35 amigos nesta Casa. São 35, 34, 32, não importa. São amigos, amigos, amigos, que eu tenho certeza que jamais vou esquecer, que vou carregar sempre na minha mão. Enquanto vocês estiverem na minha mão, vocês vão estar dentro do meu coração." Mais da metade dos 33 vereadores da base governista, afinal, tiveram seus nomes envolvidos em denúncias sobre arrecadação de propina nas administrações regionais.

Izar deixou vários de seus colegas preocupados. Todos entenderam o seu recado. Nos bastidores, comentava-se que o nobre edil poderia tornar público os comentários de que um grupo de parlamentares teria sido muito bem recompensado por garantir a aprovação, recentemente, de dois projetos: um sobre a delimitação de áreas para instalação de farmácias e outro que regulamenta a atuação de lotações (questão acompanhada com especial interesse pelos empresários de ônibus). "Essa Câmara não tem estatura para fiscalizar a si própria. O nível de envolvimento dos vereadores com o esquema de corrupção na cidade não permite. A imagem do Legislativo está indo para o fundo do poço", ataca o vereador Vicente Cândido, presidente do Diretório Municipal do PT.

Ele diz que os governistas haviam decidido "sacrificar" apenas alguns bagrinhos (parlamentares sem peso político) – "para dar uma satisfação à opinião pública". As exceções seriam Vicente Viscome e Hanna Garib, ex-vereadores do PPB e dois dos principais acusados, cassados por causa da pressão da opinião pública. Garib acabou punido pela Assembléia Legislativa, depois de se eleger deputado. Como Izar não era tão bagrinho como se pensava, sobrou apenas para a obscura Maeli Vergniano, advogada ligada à Igreja Assembléia de Deus e eleita pelo PDT, cassada na terça-feira 31. "Agora, não se cassa nem se pune mais ninguém", avalia Cândido, que quase apanhou de um grupo de colegas pró-Izar e diz ter sido ameaçado por um deles de "tomar um tiro na bunda".