Um dos vídeos recentes de maior sucesso na internet chama-se “Cabeça do Fábio”. O clipe de dois minutos, visto por mais de dois milhões de pessoas na sua primeira semana no ar, faz paródia com o ator e humorista Fábio Porchat, o rosto mais popular do grupo Porta dos Fundos. Ele mostra um encontro absurdo entre a “cabeça do ator” e seu “senso de ridículo”, que questiona a onipresença dele nos últimos tempos. Realizado pelo próprio Porta dos Fundos, é um exemplo da renovação do humor que a trupe desencadeou pela web em um curto período de tempo. Mesmo antes de completar um ano no ar, em agosto, o grupo já tinha o canal mais acessado no País: dos 29 vídeos de maior audiência na internet, nove eram deles. Hoje, com dois esquetes semanais de poucos minutos cada um e nenhuma censura de conteúdo, o Porta dos Fundos obtém uma média de 65 milhões de acessos por mês, um recorde internacional para o YouTube. Por essa renovação do humor e por apostar no potencial das mídias digitais, Fábio Porchat foi escolhido Brasileiro do Ano na categoria Novas Mídias.

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RELÂMPAGO
Aos 30 anos, ele tem sob seus esquetes uma legião de seis milhões
de espectadores, a maior audiência do canal de vídeos do Google
no Brasil e a que cresceu mais rápido no mundo

Descontando-se as piadas do esquete, o diálogo entre a “cabeça do ator” e seu “senso de ridículo” tem lá sua veracidade biográfica. Fábio Porchat, 30 anos, realmente está em todas. Além do sucesso na internet, pode ser visto nos cinemas no longa “Meu Passado Me Condena” (um milhão de ingressos em dez dias de exibição), na televisão (aberta e fechada), em pelo menos cinco comerciais em diferentes mídias e ainda roda o País com seu espetáculo solo “Fora do Normal”, stand-up de uma hora e meia. Em São Paulo, teve de abrir a terceira sessão consecutiva às sexta-feiras e está com lotação esgotada até 2014. “Ele sempre foi animado, incansável. E bastante exibido. Ele é exatamente essa mesma pessoinha que não para quieta desde os nove meses de idade, quando levantou e saiu andando”, conta Isabella Robinson, mãe e funcionária do ator.

De fato, pessoalmente, Porchat parece o mesmo que o espectador vê na tela ou no palco. É inquieto, carismático e engraçado, do tipo que faz as pessoas rirem até quando fala sério. Dono de uma disposição invejável, consegue trabalhar até 20 horas por dia. Atende fã por fã na porta do teatro às 23h30, depois de três apresentações, uma entrevista, duas viagens de avião, jantar marcado para as 2 da manhã na véspera de uma corrida programada para as 8 horas, uma hora antes de voltar para o aeroporto. “Sempre fui de fazer muitas coisas ao mesmo tempo e não tenho vontade de fazer menos”, diz ele, que não se incomoda com o momento de superexposição traduzido no vídeo sobre sua cabeça encenado pelo colega Rafael Infante (no papel da cabeça do Fábio) e pelo sócio Gregório Duvivier (o constrangido senso de ridículo).

Carioca criado em São Paulo, Porchat estudava administração de empresas quando descobriu a vocação para os holofotes. Um dia, numa excursão com os colegas da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo para o programa de auditório de Jô Soares, resolveu fazer graça e mandou um bilhete para o apresentador, se oferecendo para mostrar um esquete de sua autoria. A cena – um diálogo entre o casal do programa global “Os Normais”, inventado por ele – arrancou gargalhadas da plateia, dos músicos e do próprio Jô, que admirou a coragem do adolescente. “Naquele instante descobri que era isso que eu queria fazer da minha vida”, conta.

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PORCHAT EM TRÊS MOMENTOS
No alto, no começo dos anos 2000; em um programa do Jô, quando se arriscou no palco
e decidiu seguir a carreira que o consagrou, e, com pouco menos de 1 ano de idade,
com a mãe, Isabella Robinson, que hoje cuida das suas redes sociais.
“Ele sempre foi animado, incansável. E bastante exibido”, diz ela

Este ano, 11 depois da brincadeira que só pretendia divertir os amigos, Porchat voltou ao Jô como celebridade e agradeceu ao comediante veterano a chance que mudou sua vida. “Um mês depois eu estava fazendo CAL (Casa das Artes de Laranjeiras, umas das principais escolas de teatro do Rio)”, lembra ele, que nunca mais olhou para as apostilas de administração de empresas. “Mas uso, sim, um monte de princípios para tocar a nossa rotina na produtora. Somos uma empresa superorganizada.” Daí o sucesso? “Não é só. Tem um pouco do lugar certo na hora certa. A gente não esperava tanto em tão pouco tempo, mas a verdade é que reunimos pessoas de talento com experiências diferentes e vontade de fazer humor. Pegou”, resume.

Com quatro sócios, o Porta dos Fundos é hoje uma empresa com 35 funcionários. Porchat escreve, produz e encena dois vídeos semanais na web e reveza a presença em palestras e reuniões com a cúpula do Google, que tem no grupo um modelo de negócio na internet. Entre outros gols comerciais, os vídeos publicitários criados pela trupe são veiculados em páginas das empresas anunciantes, que alcançam visualizações recorde. Uma websérie criada por eles para a LG, por exemplo, rendeu mais de 6,5 milhões de visualizações para a o site da marca. O produto anunciado recebeu cliques de pelo menos 60 mil pessoas depois do fim de cada episódio, uma forma de fisgar o público de fazer inveja até para a televisão.

O ator chega a trabalhar 20 horas por dia e está, ao mesmo tempo, no cinema,
na internet, na televisão, no teatro e em comerciais em todas essas plataformas.
“Sempre fui de fazer muitas coisas ao mesmo tempo”, diz

O ator sabe, porém, que o grupo que o lançou como estrela do momento pode ser desfeito com a mesma velocidade com que se estruturou. O negócio está em fase de expansão e consolidação. Uma marca como a LG desembolsa cerca de R$ 250 mil por um vídeo publicitário e estima-se que o grupo receba R$ 80 mil mensais do YouTube pela publicidade agregada. O Porta dos Fundos foi uma grande porta de entrada para o ator Fábio Porchat na carreira solo que anda levando para as outras mídias o timing e a liberdade da internet. Seria esse o segredo de tanto sucesso? A diferença em relação a outros humoristas é a proximidade com o espectador. Os textos, as situações e os cenários nas cenas criadas e interpretadas por Porchat, são todos parte da realidade de seu público, independentemente da plataforma. Assim, o artista tem uma capacidade única de fazer as pessoas se sentirem em casa.

O ator também gosta de se sentir em casa no trabalho. Ele sempre foi muito ligado à família e, mesmo com a fama repentina, consegue manter por perto os parentes mais próximos. Não é difícil encontrar seu pai, Fábio Ferrari Porchat de Assis, na plateia das apresentações em São Paulo, no Teatro Frei Caneca. Na saída da sala, uma banca de camisetas é comandada por sua irmã, Alice Porchat. Seu site e as redes sociais vivem rigorosamente atualizados, tarefa conduzida pela mãe, Isabella Robinson, que, além de especialista em marketing digital, sabe encontrar o filho rapidamente quando precisa tomar a decisão sobre uma publicação.

“A gente não esperava tanto em tão pouco tempo, mas a verdade é que reunimos
pessoas de talento com experiências diferentes e vontade de fazer humor. Pegou”

Os companheiros do Porta dos Fundos são uma segunda família para o ator. Quando terminou o casamento de três anos com Patrícia Vasques, dando início ao circuito de boatos sobre uma suposta nova opção sexual, os primeiros humoristas a fazer piada da nova fama do ídolo foram os próprios colegas de produtora. O entrosamento e a intimidade entre eles são tão grandes que um é capaz de terminar a fala iniciada pelo outro sem titubear. “Uma família que se sacaneia o tempo todo”, diz Porchat. “Mas com muito amor.”

Foto: Pedro Dias/Ag. Istoé; Arquivo Pessoal