Sabe aquele bar onde os homens se reúnem em torno de chopes enquanto avaliam o corpo das mulheres que passam e contam detalhes de suas conquistas? Essa mania ganhou um concorrente: o aplicativo para celular Lulu, no qual mulheres, anônimas, avaliam a performance de homens com os quais tiveram ou querem ter algum relacionamento. Em pouco mais de uma semana no Brasil, o aplicativo, gratuito, foi o mais baixado do País. Os homens ganham notas de 1 a 10. Poderia ser só uma brincadeira se não acontecesse na internet, instrumento veloz para destruir reputações ou expor, de forma jocosa, quem valoriza a privacidade. Basta estar no Facebook para se ver disponível para avaliações inocentes ou vinganças. E a revanche masculina está a caminho: esta semana deverá ser lançado o Tubby (Bolinha, em inglês), aplicativo no qual os homens vão avaliar mulheres.

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RISCO
Aplicativos que rotulam as pessoas podem cair na baixaria

Com diferenças. Enquanto no Lulu os critérios de avaliação são pré-estabelecidos, no Tubby – desenvolvido por um grupo de paulistanos – os próprios usuários poderão criar as definições das mulheres. Aguarda-se uma troca de baixarias na internet, uma guerra de sexos com grande potencial para gerar mágoas. “O Lulu é uma rede para dividir experiências, um ambiente leve e positivo. As mulheres precisam de referências para relacionamentos também”, defende Deborah Singer, diretora de marketing do Lulu, à ISTOÉ. “Estamos trabalhando em um algoritmo que detecte conteúdo inapropriado. Não vamos agradar a todos, mas a ideia é brincar de forma saudável”, explica Guilherme S., um dos idealizadores do Tubby, que prefere o anonimato.

Mas não há como agradar a todos, e o Lulu já começa a perceber isso. Pelo menos um jovem já abriu processo por uso indevido de imagem, e pede ressarcimento por danos morais. “Meu cliente teve sua intimidade exposta indevidamente. Consideramos esse aplicativo um solo fértil para o bullying virtual”, argumenta o advogado Fábio Scolari, que defende o estudante de direito e primo Felippo de Almeida Scolari, 28 anos. A “vítima”, que tem uma namorada há mais de um ano, recebeu nota 8,5 e adjetivos como #SafadoNaMedidaCerta e #MãosMágicas.

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Rotular as pessoas dessa forma pode ter consequências. “Há um risco de as pessoas se deprimirem ou ficarem ainda mais tímidas com avaliações públicas assim”, afirma o psicoterapeuta Paulo Tessarioli, do Centro de Estudos e Pesquisas em Comportamento e Sexualidade. Para Maria Cristina Romualdo Galati, do Centro de Estudos da Sexualidade Humana – Instituto Kaplan, essa grande exposição pode causar um impacto muito forte, especialmente nos mais jovens. “É muito frio avaliar uma pessoa só por uma nota”, diz. O Lulu foi criado pela jamaicana Alexandra Chong e já existe há nove meses nos Estados Unidos. O Brasil foi o segundo País a receber o aplicativo.