Quando a abertura das urnas mostrou que Hassan R­ouhani era o novo presidente do Irã, em junho, um sopro de surpresa e otimismo bateu sobre líderes internacionais, que sempre consideraram o país uma tremenda dor de cabeça. Moderado e com talento unificador, Rouhani foi por dois anos o chefe das negociações nucleares iranianas e prometia, ao ser eleito, encerrar o inverno político vivido sob a administração de Mahmoud Ahmadinejad. Tudo indicava que, com esse currículo, o Ocidente recalcularia sua abordagem com o Teerã. O primeiro passo para essa mudança foi dado na semana passada, com o anúncio de um acordo nuclear firmado entre o governo iraniano e Estados Unidos, Grã-Bretanha, China, França e Rússia (membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU), e Alemanha. O documento tem validade de seis meses, mas é histórico. Afinal, trata-se do primeiro pacto diplomático entre iranianos e americanos em 34 anos.

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Segurando cartazes com o rosto do presidente Rouhani,
iranianos comemoraram a assinatura do acordo

O acordo vem em boa hora para o presidente Barack Obama. Desgastado nos Estados Unidos pelos problemas de seu programa de saúde, conhecido como Obamacare, e no mundo pelas inúmeras denúncias de espionagem a líderes globais e cidadãos comuns, Obama tem a expectativa de que o acerto provisório com o Irã dê mais tempo para os lados negociarem um pacto definitivo no ano que vem. Embora o Teerã insista que seu programa nuclear tem fins pacíficos (produção de energia e uso medicinal), a comunidade internacional desconfia que o objetivo seja a construção de uma bomba atômica. Isso ameaça, principalmente, o Estado de Israel. “O Irã é considerado um dos piores Estados do mundo pelos israelen­ses”, disse à ISTOÉ Patrick James, professor de relações internacionais da Universidade de Southern California, de Los Angeles. Desde 1979, o Irã é uma república islâmica comandada por um líder supremo e é o principal aliado da ditadura da Síria e do grupo libanês radical Hezbollah. Para o especialista, o acordo terá efeito colateral nas negociações de paz com a Palestina intermediadas pelos EUA – também uma prioridade da política externa da administração Obama. “Os judeus se sentiram traídos e dificilmente colaborarão com o presidente americano neste momento”, afirmou. A Arábia Saudita teve reação parecida e ameaça agir militarmente para manter sua influência na região.

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TRÉGUA
Hassan Rouhani (à esq.), presidente do Irã, e Barack Obama, presidente dos EUA,
aceitaram o primeiro pacto diplomático entre os dois países em 34 anos

Na segunda-feira 25, dia seguinte à assinatura do acordo, a Força Aérea de Israel deslocou sete esquadrões para um exercício militar internacional, com a participação de EUA, Grécia e Itália. A demonstração de força vem em momento crucial para a relação entre Irã e Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, definiu o contrato assinado em Genebra, na Suíça, como um “erro histórico” e enviou um assessor de segurança nacional aos EUA. “O acordo fará apenas com que o Irã seja mais teimoso”, escreveu Yaakov Amidror, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, no jornal americano “The New York Times”. Para ele, as concessões do Irã foram “cosméticas”. “Qualquer um que já tenha conduzido negociações diplomáticas ou de negócios sabe que não se deve reduzir a pressão sobre seu adversário na véspera das negociações. No entanto, isso é essencialmente o que ocorreu em Genebra.” Em artigo para o site Al-Monitor, o analista político israelense Ben Caspit disse que o exercício militar provavelmente já estava programado, mas alertou: “O Oriente Médio é uma região onde coincidências bizarras podem rapidamente se transformar numa realidade sangrenta.”

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Ao se comprometer a não construir mais centrífugas nucleares e não enriquecer urânio em mais de 5%, entre outras promessas (leia quadro), o Irã receberá um alívio das duras sanções que lhe foram impostas nos últimos sete anos pela Organização das Nações Unidas e por EUA e União Europeia. Durante os seis meses do acordo, o país embolsará recursos estimados em US$ 7 bilhões, bem-vindos especialmente em tempos de crise. Parte desse montante diz respeito a depósitos bancários iranianos que estavam bloqueados em instituições financeiras estrangeiras. O acordo é um caminho para a paz, mas representa uma solução econômica também.

Fotos: ISNA,Hemmat Khahi/AP Photo; AY-COLLECTION/SIPA; Larry Downing/REUTERS


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