O ministro do Esporte e do Turismo, Rafael Greca, era todo alegria ao participar na manhã da quarta-feira 8 da solenidade de largada da regata dos 500 anos na Torre de Belém, em Lisboa. Ao lado do presidente de Portugal, Jorge Sampaio, e de Fernando Henrique Cardoso, acenava entusiasmado para os barcos que partiam em direção ao Brasil. Tinha um bom motivo para tanta felicidade. Apesar das denúncias sobre seu envolvimento com a máfia do bingo, Greca está convencido de que conseguiu uma sobrevida no cargo pelo menos até o final de abril. No governo, a justificativa para essa espécie de aviso prévio é de que a saída do ministro agora causaria transtornos à organização das festas dos 500 anos, pois documentos e programas oficiais já foram confeccionados com o seu nome e a sua assinatura. “Mas um fato novo, como a confirmação de que houve mesmo um depósito milionário na conta da mãe do ex-assessor Luiz Antônio Buffara, pode precipitar a queda”, avalia um dirigente nacional do PFL. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) diz ter informações seguras de que o depósito é verdadeiro e seria usado na campanha eleitoral de Greca ao governo do Paraná, em 2002. Com a quebra do sigilo bancário de Terezinha Buffara, o Ministério Público terá como comprovar isso.
 

Enquanto acompanha a evolução das investigações sobre Greca, a cúpula do PFL já cuida da indicação de seu sucessor. Há 15 dias, o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), conversou com FHC e saiu convencido de que o Ministério do Esporte continuará com o PFL. Se dependesse apenas do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), e do secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, o indicado seria o deputado Roberto Brant (PFL-MG).

Desinteresse – Os verdadeiros donos da pasta são Bornhausen e o governador do Paraná, Jaime Lerner. E eles têm outros candidatos para o cargo. Ao saber que era um dos cotados, o deputado Affonso Camargo (PFL-PR) procurou o presidente do partido para manifestar o seu desinteresse. Dois nomes continuam no páreo e contam com o aval de Bornhausen e Lerner: o ex-governador do Paraná João Elísio Ferraz e o ex-senador José Carlos Gomes Carvalho, atual secretário do Trabalho e presidente da Federação das Indústrias do Estado. Greca só conseguiu permanecer até agora no Ministério por causa de um método original de reagir à fritura palaciana. Ele simplesmente faz de conta que nada é com ele. Sua tática, porém, fica cada vez mais frágil. A caixinha-preta de Greca começou a ser aberta pelos procuradores que estão desvendando um enredo que mistura “bingueiros”, depósitos milionários numa conta em Curitiba e a mãe de um amigo e homem de confiança do ministro. O procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza está investigando um depósito de R$ 2.836.000 que teria sido feito no dia 19 de junho de 1999 na conta número 6653-8, da matriarca dos Buffara, na Caixa Econômica Federal. Coincidência ou não, em junho do ano passado os bingueiros começaram a pagar propina a um esquema que se apresentava como preparatório para a campanha eleitoral do ministro.
 

Segundo contou a ISTOÉ o empresário Alejandro Viveiros Ortiz, representante da multinacional Recreativo Franco no Brasil e ex-sócio do mafioso italiano Lillo Rosário Lauricella, a caixinha para financiar os planos eleitorais de Greca foi acertada no final de maio, em São Paulo. De acordo com Ortiz, na reunião com empresários da jogatina eletrônica o lobista Sérgio Buffara e o advogado curitibano André Roberto Manfredini falaram em nome da assessoria de Greca. No encontro, Manfredini e Buffara ofereceram facilidades para a instalação de máquinas caça-níqueis no País em troca de um pedágio. Ficou acertado que os empresários contribuiriam com o equivalente ao faturamento de um mês de arrecadação das maquinetas em todo País, dividido em três parcelas a serem pagas a partir de junho. As cinco empresas que participaram do encontro foram Neo Juegos, Franco, Fabama, IGT e Brasbin.
 

O Ministério Público está buscando rastrear o caminho percorrido por esse dinheiro com uma devassa na conta de Terezinha Buffara de Freitas. Um de seus filhos, o Sérgio, participou das negociações com os bingueiros. O outro, Luiz Antônio, foi nomeado para a diretoria de Administração e Finanças do Instituto de Desenvolvimento do Desporto (Indesp). No cargo, ele assinava autorizações para o funcionamento de bingos no País. Sem ter nenhum cargo no Indesp, Sérgio Buffara atuava com a maior desenvoltura no Ministério. Entre 30 de março e 12 de maio, ele participou de reuniões secretas com representantes de bingueiros na sede da Conab, órgão de abastecimento do Ministério da Agricultura que nada tem a ver com esportes. Nessas reuniões foi redigido, por exemplo, o texto da famosa portaria 23 baixada pelo Indesp. A portaria simplesmente concedia na prática à máfia dos bingos o controle da entrada de máquinas caça-níqueis no País. Depois que o diretor de fiscalização e credenciamento do Indesp, João Elias Cardoso, denunciou a trama, o Planalto exigiu e a portaria foi revogada.
 

Na esteira do escândalo, numa tentativa de continuar no Ministério, Greca teve de sacrificar o amigo Luiz Buffara. Não foi suficiente. Novas denúncias complicaram ainda mais a situação do ministro. O deputado Dr. Rosinha conta que conseguiu se antecipar à investigação do Ministério Público e confirmar a existência do depósito milionário na conta de Terezinha. “Se ficar comprovado o depósito e a origem ilícita do dinheiro, estará evidenciada a corrupção”, afirma o procurador Luiz Francisco. Quanto a Greca, ele não abre mão de seu estilo. Defende-se agora jogando o problema para a mãe de seu assessor: “Se for constatada alta movimentação bancária na conta da mãe de Buffara, é a mãe de Buffara que tem de se explicar.”