Num retrato antológico do italiano Pietro Maria Bardi, presidente de honra do Museu de Arte de São Paulo (Masp), morto aos 99 anos, em outubro do ano passado, o “professor” aparece carregando um espanador em meio a uma coleção de obras-primas do acervo do museu. O adereço inesperado não era nenhuma ironia a políticos que à época se vangloriavam de operações-faxina. Todos os dias, de manhã, Bardi tinha o hábito de percorrer o museu que ajudou a criar e dirigiu por tantos anos à procura de uma poeirinha qualquer. É este espírito sagaz, irreverente e especialmente combativo que se depreende das páginas da biografia P.M. Bardi (Instituto Lina Bo e P.M. Bardi/Imprensa Oficial do Estado, 388 págs., R$ 30), do italiano Francisco Tentori, uma das publicações lançadas em homenagem ao centenário do polêmico historiador e crítico de arte, marchand, escritor e jornalista, acontecido no dia 21 de fevereiro. Publicado na Itália em 1990, o livro só agora lançado no Brasil é uma daquelas biografias rigorosas, que na contracorrente da moda privilegia o contexto social no qual se insere o retratado em detrimento dos detalhes mais anedóticos de sua vida. Conta, por exemplo, que, inscrito no Partido Nacional Fascista em 1926, Bardi – que imigraria para o Brasil em 1946 –, contraditoriamente, fazia parte de um grupo de intelectuais “dotados de enorme energia e carga de renovação, mas também de uma ingenuidade, de um otimismo quase infantil diante da modernização”. Identificados com os primeiros momentos do regime, logo eles se desiludiram. Tentori também aborda as ações do Bardi polemista, que deixou sua marca em tantas publicações italianas dos anos 30, algumas delas criadas por ele, como a revista Quadrante. Além da biografia, neste ano será lançado o volume Arte ISTOÉ…, reunindo os artigos que Bardi escreveu para as revistas Senhor, ISTOÉ/Senhor e ISTOÉ. As comemorações, coordenadas pelos Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, ainda incluem quatro exposições, previstas para acontecerem até julho, em diferentes museus da capital paulista. A primeira delas, Bardi 100 anos – coleção Lina Bo e P.M. Bardi no acervo do Masp, já se encontra aberta no museu e traz, logo na entrada, a mesma composição de 15 telas e esculturas que Bardi reuniu para fazer o famoso retrato de Lew Parrella, em 1967. Trata-se de um luxo visual que, devido às reformas do prédio da avenida Paulista, ainda não terminadas, ficaram algum tempo longe dos olhos do público.


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