Mudanças acontecem de duas formas: quando escolhemos ou quando não há escolha. Infelizmente, a segunda é bem mais comum. Se os europeus tivessem controlado seus gastos antes da crise de 2008, escolas e hospitais não seriam fechados agora. Por aqui não é diferente. Mudanças econômicas profundas – como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a renegociação da dívida de Estados e municípios e a autonomia do Banco Central – só aconteceram quando estávamos à beira da falência. Passado o medo do colapso, foram todas enfraquecidas nos últimos anos.

Sem crises, políticos não têm coragem para adotar medidas imprescindíveis, mas impopulares. Exemplo: aumentar a idade mínima para aposentadorias. De 2004 a 2010, o PIB brasileiro cresceu a um ritmo de quase 5% a.a., 2,5 vezes a média dos 25 anos anteriores. Só foi possível por ajustes econômicos feitos antes, um forte crescimento na procura global por matérias-primas que exportamos e uma grande queda do custo de capital no mundo. Esse modelo de desenvolvimento baseado na expansão da procura tanto externa quanto doméstica pelos nossos produtos e serviços está esgotado. Nos últimos três anos, voltamos à média histórica de crescimento do PIB de apenas 2% a.a.

Dois fatores que ajudaram o crescimento acelerado de 2004 a 2010 acabaram: incorporação de mão de obra ao mercado de trabalho e maior utilização da infraestrutura existente. O desemprego já é o mais baixo da história e o gargalo da infraestrutura é visível. Para sustentarmos um crescimento mais rápido, só investindo muito em qualificação de mão de obra, máquinas, equipamentos e infraestrutura. A China, que cresce três a quatro vezes mais rápido que o Brasil, investe em sua infraestrutura, a cada três meses, o equivalente a todo o estoque de infraestrutura existente no Brasil.

Se você estivesse concorrendo à reeleição e, a menos de um ano das eleições, as pesquisas indicassem sua vitória com uma folga razoável, você faria grandes mudanças na política econômica? A Dilma também não. O que esperar da economia em 2014? Sem uma nova crise externa, o PIB deve crescer cerca de 2%, os juros subirão para impedir que a inflação aumente e o dólar cairá ao longo do ano.

Por outro lado, se uma desaceleração dos estímulos monetários nos EUA deflagrar o estouro de bolhas de ativos pelo mundo, a recuperação da economia chinesa for abortada ou novas crises financeiras pipocarem na Europa ou nos países emergentes, nosso crescimento será próximo de nulo e, temporariamente, o dólar subirá ainda mais, pressionando a inflação.

Em síntese, o Brasil terá, na melhor das hipóteses, um 2014 medíocre. Na pior, estagnação. Felizmente, algumas regiões e setores terão um bom desempenho. O Norte, Centro-Oeste e o interior do País crescerão mais, impulsionados pelo vigor do agronegócio e da mineração. Idem para o Nordeste, onde a emergência de novos consumidores continuará forte. Setores de serviços, comércio e imobiliário também crescerão mais do que o PIB, beneficiando-se da expansão de renda e crédito e da falta de concorrência estrangeira, ao contrário da indústria.

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Pelo 11º ano consecutivo, a produção industrial deve expandir-se menos do que as vendas no varejo. Continuaremos a consumir mais do que produzimos. Em algum momento isso ficará insustentável e deflagrará uma nova crise que forçará as mudanças que poderíamos ter feito antes, por escolha própria, em condições muito mais favoráveis.

Ricardo Amorim é economista, apresentador do programa “Manhattan Connection”, da Globonews, e presidente da Ricam Consultoria 


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