Todo mundo sabe o que corre pelos esgotos de nossas cidades. Só lembramos desse conteúdo quando ele vaza perto de nós ou quando alguém abre as tampas dos bueiros e deixa que ele transborde aos olhos de qualquer um. Não há analogia mais exata para o atual escândalo dos fiscais do ISS em São Paulo. Não há cidadão que não soubesse da lama fétida que circulava no viciado sistema de concessões de habite-se da cidade, num esquema de corrupção que, de tão arraigado, se tornou até relaxado. Ocorre que ela também transbordou. E aí fomos apresentados a escroques travestidos de novos-ricos, achacadores concursados e delatores bem apadrinhados – todos em carne, osso, carrões e loiras a tiracolo. Emergem, nessas horas, os seres de cuja existência estamos cansados de saber. E, pela enésima vez, nos perguntamos por que não se faz uma limpeza definitiva nas entranhas da administração pública.

Há alguma esperança de que a desinfecção aconteça desta vez? Convém sempre manter alguma fé, com vários pés atrás. À medida que as eleições de 2014 se aproximam, interesses políticos tendem a se sobrepor aos de justiça e moralização. O caso em questão gerou um bate-boca entre opositores transformados em parceiros desconfortáveis. Imediatamente, antes que um arrastasse o outro para a lama, comprometendo ambos os lados na hora de recolher votos, foi chamado o esquadrão fecha bueiro.

Com o movimento, contém-se o estrago e preserva-se a imagem pública das administrações. A questão é que não se deve perder oportunidades saneadoras. Longe das aparências políticas, que normalmente levam a uma composição sem punições, há muito trabalho a ser feito, esquemas a serem desmontados e um modelo mais eficiente e justo a ser implantado, para que a sociedade não precise mais se defrontar com a fauna dos subterrâneos.