Nenhum bioma brasileiro sofreu tanto com o desenvolvimento econômico do País ao longo dos séculos quanto a Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais diversos do planeta. Hoje, apenas 8,5% dos mais de 131 milhões de hectares de sua cobertura original sobreviveram ao Ciclo da Cana, à corrida do ouro, à explosão da cultura cafeeira e, mais recentemente, ao acelerado processo de urbanização das grandes cidades brasileiras. São áreas esparsas, raramente interligadas entre si, que formam pequenas ilhas verdes no imenso oceano de terra desmatada e que, na maior parte das vezes, estão nas mãos de pequenos proprietários rurais. Estima-se que atualmente 80% de toda a área da Mata Atlântica brasileira remanescente seja de propriedade privada. Sua preservação depende, principalmente, da boa vontade de seus proprietários e do frágil sistema de fiscalização ambiental do País.

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ANO 2000
A Mata Atlântica devastada na Fazenda Bulcão após ser usada como pasto

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ANO 2013
Paisagem original resgatada após a área ser transformada em unidade de conservação

Lentamente, no entanto, o desafio de tornar essas áreas intocáveis vem ganhando o apoio exatamente de quem, no passado, via a floresta como um entrave para o desenvolvimento econômico de suas terras. Um número crescente de proprietários rurais tem buscado os órgãos ambientais para transformar suas áreas de Mata Atlântica em reservas florestais perpétuas. Isso significa que, mesmo que as terras passem para as mãos de outros proprietários, a área de Mata Atlântica se manterá intocada.

Hoje já existem no País cerca de 760 Reservas Particulares do Patrimônio Natural, as RPPNs. Elas foram o instrumento legal encontrado pelo Ministério do Meio Ambiente para conseguir buscar o apoio dos proprietários na luta pela preservação. “Os donos dessas áreas costumam ter um engajamento ambiental forte, já que o incentivo econômico não é o que convence”, explica Mariana Machado, coordenadora na Fundação SOS Mata Atlântica. Por incentivo, Mariana se refere à isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) proporcional à área da reserva e à prioridade na concessão de crédito agrícola, o que, segundo ela, na prática, não é tão simples.

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O fotógrafo Sebastião Salgado, que agora corre o mundo mostrando seu mais recente trabalho, Genesis, é um dos maiores entusiastas da ideia. Em sua fazenda em Aimoré (MG), Salgado criou a primeira reserva constituída em uma área degradada de Mata Atlântica. Para isso, ele assumiu o compromisso de recuperar os 608 hectares de área devastada por 60 anos de atividade pastoreira. Em 13 anos, os morros carecas, sem nem uma árvore sequer, foram cobertos por uma densa floresta típica da Mata Atlântica.

A Fundação SOS Mata Atlântica e a Conservação Internacional (CI Brasil) são alguns dos principais incentivadores do programa. Por meio de editais, auxiliam financeiramente projetos que têm como objetivo transformar áreas de Mata Atlântica em reservas. Nos últimos dez anos, a fundação estima ter incentivado a criação de mais de 300 reservas e investido cerca de R$ 6 milhões. Apesar dos números superlativos, os impactos ainda são pequenos. O empenho da SOS Mata Atlântica conseguiu transformar em reservas naturais apenas 0,5% do total do que sobrou da Mata Atlântica no Brasil.

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