A impressão ao se ouvir Oasis continua a mesma. É impossível dissociar a banda inglesa da pesada influência dos Beatles. Não que a constatação seja totalmente desmerecedora. Em especial neste Standing on the shoulder of giants – cujo lançamento mundial acontece na segunda-feira 28 – no qual em muitos momentos identificam-se raízes beatlemaníacas e só não é xerox porque estamos no ano 2000 e até o sistema de copiar evoluiu. Nada como a tecnologia sintética para travestir sons paleozóicos. Duvida? Então ouça com atenção Little James e concluirá que na canção há ecos de The fool on the hill, ou então Who feels love? e encontrará toda a base da fase psicodélica dos Fab Four, sem contar o clima sonoro ao longo do disco.
 

Noel Gallagher, o compositor e guitarrista do grupo que hoje em dia não rivaliza com nenhum outro na Inglaterra, já admitiu sua admiração pelos Beatles. Mas não sabe ainda que “definitivamente, talvez” – para usar uma expressão dele, que por sinal batizou seu primeiro álbum –, o Oasis nunca chegue ao patamar conquistado pela banda de George, Paul, John e Ringo. Aguentar as personalidades ególatras de Noel e seu irmão, o vocalista Liam Gallagher, aliás, não é fácil. Tanto que o conjunto se esfacelou e se reconstituiu nos últimos tempos.
 

Deve ser difícil assumir a personalidade de “estar na melhor banda” e fazer “os melhores álbuns”, como Noel vive repetindo. Favoravelmente ao Oasis contam-se o vigor rock’n’roll do velho e bom power trio de guitarra, baixo e bateria, canções melodiosas e uma perigosa pretensão. Sem ao menos um pouco dela, qualquer rock star não é nada.
A.R.

Cuba tecno
Bill Laswell injeta som eletrônico na ilha

Cult em todo o mundo, a música cubana não poderia escapar de ser matéria-prima para experiências vanguardistas e tecnológicas. Imaginary Cuba joga na lona tudo o que se consagrou como referência ao estilo musical da ilha de Fidel Castro. O disco não tem canções românticas nem merengues. Ouve-se sim uma esquisitice criada pelo produtor e multiinstrumentista americano Bill Laswell, figurinha carimbada que já trabalhou com Mick Jagger, Laurie Anderson e Peter Gabriel, entre outros. Laswell desconstruiu a música cubana a partir de suas próprias bases rítmicas, transformando-a num amontoado de fragmentos percussivos e de cantos afros que compõem uma atmosfera hipnótica. A grosso modo tenta levar o ouvinte a uma espécie de transe.
 

Laswell ainda injeta interferências eletrônicas que deixam tudo com um contorno tecno. Por falta de definição melhor, ele faz ambient music, ou seja, um som repetitivo, difícil de digerir pelo menos para os não-acostumados ao chamado chill out, momento nas salas dos clubes noturnos usados para relaxar do frenesi do batuque digital. Como vanguarda, o trabalho de Bill Laswell pode até ter algum proveito. Mas quem curte a tradicional música cubana vai certamente preferir ouvi-la sem qualquer contaminação.