Até há pouco tempo, ele era considerado mais um elemento de filmes de ficção científica. Hoje, o raio laser se tornou uma vedete na medicina e também um dos queridinhos na área da beleza. Além de ajudar nas cirurgias plásticas e na remoção de tatuagens, o laser ganha cada vez mais força no combate a pêlos indesejados, remoção de rugas indiscretas ou de espinhas inconvenientes. E o melhor é que os avanços tecnológicos permitem agora que esses problemas sejam atenuados com laser também no verão. É uma ótima notícia, principalmente quando se sabe que tratamentos mais profundos de pele são contra-indicados para a estação por causa da conhecida ação nociva do sol sobre a pele.

Um dos tipos que podem ser usados na estação é o Nd:YAG, laser que não lixa nem remove a camada superficial da pele – por isso mesmo pode ser usado nos meses de sol. O Nd:YAG dispara um flash gasoso que resfria a superfície cutânea milissegundos antes do tiro de laser. O resfriamento diminui o impacto do raio (a pele fica avermelhada por apenas algumas horas ou dias), que passa pela pele sem aquecê-la até atingir o colágeno – fibra que dá sustentação à pele. "Num processo de envelhecimento, essas fibras ficam desorganizadas. O laser as estimula a voltar para o seu lugar, como numa remodelagem", explica o cirurgião plástico Charles Yamaguchi, de São Paulo.

No caso do peeling, a aplicação prévia de uma máscara isolante à base de carbono é outra estratégia que se soma ao laser Nd:YAG para facilitar sua ação. "A barreira atenua o calor da radiação e a pele não fica tão vermelha", explica o dermatologista João Carlos Pereira. A assessora parlamentar Sandra Ruvieri, 35 anos, comprovou a tese. "Fazia tratamentos com ácidos, mas queria algo mais profundo e nada traumatizante. Foi assim mesmo. Após a aplicação, a pele estava tão bem que saí do consultório e fui ao shopping", conta. Melhor mesmo foi o resultado. "As rugas de expressão amenizaram e os poros fecharam."

Método semelhante é o Softlight, que também pode ser usado no verão. Coloca-se uma camada de pasta de grafite e depois usa-se o laser, de baixa intensidade. Depois de três a cinco aplicações com intervalos de três semanas para a formação de colágeno, as rugas superficiais são atenuadas. É o que afirma a funcionária pública Mônica Araú-jo, 39 anos. "Depois da terceira aplicação, as rugas ao redor dos olhos e os vincos da boca estavam mais discretos", festeja. O mesmo procedimento com a pasta carbonada já era indicado para a depilação definitiva. Nesse caso, usa-se uma pasta mais oleosa para que o carbono escorregue por meio do pêlo até a raiz. "Como o carbono atrai o laser, o raio chega à raiz do pêlo, destruindo-a", explica Pereira.

Variedade
Além desses, há outros tipos de laser para tratar problemas diversos, a maioria podendo ser usada no verão. Entre os aperfeiçoamentos esperados, no entanto, está a criação de um laser menos agressivo para remover rugas profundas e acne. Isso porque, contra elas, o pioneiro laser de CO2 é o mais indicado. O problema é que ele é o mais agressivo porque promove um lixamento da pele, deixando-a exposta e vulnerável. Por isso os candidatos ao tratamento devem ficar longe do sol, que poderá queimar e manchar a pele desprotegida. Usar o CO2 é um caso em que o sacrifício só vale a pena quando o problema incomoda demais. A fisioterapeuta Ana Angelina da Silva, 32 anos, recorreu ao método para remover marcas de acne e manchas que o excesso de sol na adolescência espalhou por seu corpo. "É dolorido, e antes da cirurgia tive de passar oito meses preparando a pele para aguentar o procedimento", conta. "Mas a vontade de ficar bonita era tanta que arrisquei. Foi ótimo. Minha pele ficou tão lisinha que ganhei mais autoconfiança e comecei a usar o cabelo preso para mostrar mais o rosto", comemora.

Morenas
Os benefícios do laser, no entanto, não são tão democráticos. Pessoas de pele morena ou bronzeada, por exemplo, devem ter cautela. O raio é atraído pela cor escura, e, por isso, quanto mais melanina (substância que dá cor à pele), maior a região que o laser costuma atingir. Dessa forma, o tratamento pode ser prejudicado. Um pêlo preto numa pele morena, por exemplo, fica mais difícil de ser retirado. Já a mesma cor de pêlo numa pele branca é mais fácil. É como se o raio "enxergasse" melhor o alvo. Interessado em conhecer melhor os efeitos do laser sobre as peles morenas, o cirurgião plástico paulista Maurício de Maio, do Hospital das Clínicas de São Paulo, acaba de concluir um trabalho no qual compara, pela primeira vez no Brasil, os resultados da aplicação de dois tipos de laser (CO2 e érbio, tão antigo quanto o CO2, mas menos agressivo) sobre as peles morenas. Trata-se de um estudo importante para um país como o Brasil, onde grande parte da população é morena ou negra. Tudo o que se divulgava sobre os efeitos do peeling a laser estava baseado em estudos realizados nos Estados Unidos e na Europa, onde o tom de pele é mais claro.

Diferente das americanas e européias, que após a aplicação do laser apresentam coloração de pele homogênea, De Maio constatou que 30% das 27 brasileiras estudadas que fizeram o peeling a laser ficaram com a pele do rosto mais clara do que a do pescoço. "Apesar do contraste não ter incomodado – as mulheres disseram preferir um rosto mais branco às rugas -, é importante que essa eventual consequência seja informada à paciente", alerta o cirurgião. O clareamento é consequência da retirada da camada superficial da pele, que tem mais melanina e, portanto, mais cor do que as demais. A nova camada não consegue atingir o mesmo tom da pele antiga. Há outras ressalvas. "Inflamações e infecções também contra-indicam a aplicação de qualquer tipo de laser porque o calor pode piorar o quadro", avisa a dermatologista Denise Steiner. Afastadas essas possibilidades, o uso do laser só alcança efeitos especiais.