Todo o universo conhecido, ou algo em torno de 50 bilhões de anos-luz de seu território infinito, está concentrado numa esfera situada na rua 81, quase esquina com Central Park West, em Manhattan. Este fenômeno de miniaturização de tempo e espaço se assemelha um tanto à ficção científica. Quem assistiu ao filme Men in black (Homens de preto, de Barry Sonnenfeld) terá uma idéia do prodígio. Na história, um gato carrega na coleira um pingente-esfera onde está contida uma galáxia inteira. Pois, desde o sábado, 19, um globo – bem -maior do que o daquele gato – empacota o cosmo. Esse foi o dia marcado no calendário terrestre para o maior Big Bang do entretenimento astrofísico jamais montado pelo homem. Trata-se de uma autêntica jornada nas estrelas – e com um realismo de fazer cair o queixo até mesmo do Dr. Spock. O Museu de História Natural, de Nova York, operou esse milagre portátil com seu novo planetário. Para isso gastaram-se seis anos – sem descanso aos domingos – e US$ 210 milhões. Mas o resultado é uma obra arquitetônica já considerada monumento da cidade, e um complexo de entretenimento educativo como jamais se viu na Via Láctea.

O Rose Centre for Earth and Space substituiu o Hayden Planetarium, considerado um dos melhores do mundo, e que era uma das principais atrações do museu de história natural nova-iorquino. No mesmo endereço agora está a imponente esfera, que parece desafiar as leis do universo contido em si, e flutuar no espaço, apesar de suas duas mil toneladas de peso, dentro de uma caixa de vidro de 40 metros. As paredes exteriores do centro, na verdade, são feitas de um material transparente chamado pil-kinton. A idéia do projeto da empresa Polshek Partnershipe Architects era, segundo James Polshek, um de seus sócios, construir uma "catedral cósmica". A esfera segue o padrão de formato mais comum que se tem no universo.

Mas é mesmo no interior desta catedral cósmica que se encontram os maiores assombros e milagres. São pouco mais de 111 mil metros quadrados onde estão concentrados centros de pesquisas astronômicas e astrofísicas, exibições, cursos, uma loja e um restaurante, mais o show de imagens tridimensionais do planetário propriamente dito. "Nossa meta é exibir os frutos da astrofísica moderna", diz Neil Tyson, astrônomo associado e diretor do Rose Centre. "Queríamos trazer o universo aqui para a Terra, e que ele fosse compreendido por todos os tipos de visitantes, sem que importasse seu nível de conhecimento. Acho que conseguimos", completa.

Na parte superior, a esfera abriga o Space Theatre, que pode receber até 6.800 pessoas por dia, que viajarão pelo maior ambiente digitalizado do mundo. Isso significa que vão ter uma visão hiper-realista, cientificamente correta, dos planetas, estrelas, galáxias e o resto do cosmo. Os dados para este espetáculo foram fornecidos pela Nasa – incluindo aí toda a memória do supertelescópio espacial Hubble – e pela agência espacial européia Hipparcos. Tudo isso pelo preço de um ingresso de US$ 19 (adultos) e US$ 11,50 para as crianças. O show inaugural se chama Passaport to the Universe, e é narrado pelo ator Tom Hanks. É possível ver maravilhas como o planeta Júpiter e suas luas, partindo-se depois para Saturno e seus enormes anéis, e dali direto pela Via Láctea. Ou seja: no velho planetário as pessoas tinham uma perspectiva do universo visto desde a Terra. Agora, será possível voar pelo espaço e ver os astros em sua própria região.

Big Bang
Na parte de baixo da Esfera Hayden, diariamente ocorre o Big Bang. E o que é melhor, o fenômeno é narrado pela atriz Jodie Foster. Após este show, o público ainda cambaleante é levado a testemunhar 13 bilhões de anos de evolução cósmica na sala Harriet and Robert Heilbrunn Cosmic Pathway. Ali cada pessoa poderá medir seu peso em planetas como Plutão, Marte, Netuno e outras paragens mais distantes.

Mas nem tudo é brincadeira tipo parque temático. O novo planetário continua com seu departamento de pesquisas astronômicas avançadas. Os visitantes são convidados a aprender, por exemplo, como escolher um telescópio apropriado para suas incursões visuais no cosmo real e como operar o instrumento. Os alunos passam desta forma a compor um verdadeiro exército de pesquisadores amadores que vão estar ligados através da Internet, no endereço www.amnh.org.

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Para os críticos antecipados que já torcem o nariz para essa Disneyficação cósmica, a presidente do museu, Ellen Futter, responde: "Se várias celebridades e atividades humanas têm agora seu parque temático, por que não deveríamos fazer um para Deus e sua criação? Aqui, pelo menos, se aprende a decifrar algumas das perguntas mais antigas feitas pelo ser humano. Tais como: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?" E o Rose Centre parece ser mesmo o local mais apropriado para se começar a responder essas questões fundamentais.


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