Histórias com animais usados como metáfora para ilustrar os desvios de caráter humano não são novidade. Já renderam monumentos literários como a Revolução dos bichos, do indiano de origem inglesa George Or-well, que recorreu a porcos, burros e ga-linhas para traçar uma aguçada parábola sobre a força corruptora do então poder soviético. Com intenções bem me-nos sérias e mais galhofeiras, o escri-tor russo, filho de italianos, Alessandro Bof-fa, usou um princípio semelhante no divertido Você é um animal, Viskovitz (Companhia das Letras, 142 págs., R$ 20,50). São 20 pequenos contos, protagonizados sempre por um animal chamado Viskovitz, que adquire a forma de diferentes espécies – de um insignificante micróbio a um robusto alce, todos às voltas com uma sedutora fêmea chamada Liuba. O interessante é que Boffa injeta caudalosos conhecimentos de biologia para enriquecer as aventuras zoológicas e justificar a reação de alguns personagens. Embora os animais ajam estritamente de acordo com seus instintos, não deixam de parecer demasiadamente humanos em toda sua imperfeição. São egoístas e, em muitos casos, pecam por ambições e vaidades desmedidas.
 

Boffa adota informações científicas com precisão, sem perder de vista o humor, como no diálogo em que um pequeno louva-deus pergunta à mãe: "Como era papai?" E obtém a resposta: "Crocante, um pouco salgado, rico em fibras." Como se sabe, a fêmea do louva-deus come o macho depois da cópula. Entre tantos exemplos, há ainda um escorpião que não consegue refrear seus instintos assassinos apesar de cultivar o sonho de uma vida tranquila ao lado da família. A idéia de Alessandro Boffa é boa. O único problema é que, ao longo do livro, ele repete uma fórmula que pode cansar o leitor.


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