Assista a lances habilidosos e belos gols do atacante Diego Costa, do Atlético de Madri:

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Na terça-feira 29, o brasileiro com cidadania espanhola Diego Costa protocolou em um cartório o desejo de defender a seleção da Espanha. Ao tomar essa decisão, ele recusou, automaticamente, a convocação feita uma semana antes pelo técnico Luiz Felipe Scolari, que o queria em campo nos dois amistosos que o Brasil fará em novembro. E abriu mão de vestir a camisa da Seleção na Copa, no ano que vem. Ser disputado pela atual campeã do mundo e pela recordista de títulos mundiais deveria ser somente motivo de orgulho para esse jogador de 25 anos, que deixou a pequena cidade de Lagarto, no interior do Sergipe, aos 16. Atacante do Atlético de Madrid e atual artilheiro do campeonato espanhol, Diego, porém, frustrou parte da torcida brasileira. E tornou-se protagonista dos debates esportivos no País, embora pouco tenha atuado nos gramados brasileiros.

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NA FÚRIA
Por não ter disputado um torneio oficial pelo Brasil – ele participou de dois amistosos,
em março deste ano (abaixo) –, o atacante brasileiro que defende o Atlético de Madrid
e lidera a artilharia do campeonato espanhol  está apto para defender a seleção da Espanha

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O assunto poderia ter se encerrado com a desconvocação do atacante, após o anúncio de sua decisão. Mas acabou saindo da esfera esportiva. Familiares do atacante, em Lagarto, preferiram manter o silêncio num primeiro momento, acuados com a perseguição patrocinada pelo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin. Representada por seu diretor jurídico, Carlos Eugênio Lopes, a entidade veio a público dizer que estuda cassar a cidadania brasileira do atleta. “O presidente me autorizou a instaurar um procedimento no Ministério da Justiça, pedindo a perda da cidadania brasileira, que Diego repudiou”, disse Lopes. Além de questionar a legalidade da opção do sergipano, o cartola tentou manchar a sua reputação. “É óbvio que a razão da escolha foi financeira”, afirmou Lopes.

O Ministério da Justiça, por meio de sua assessoria, apressou-se em dizer que os processos de perda de cidadania só são admitidos com uma declaração da pessoa interessada em deixar de tê-la. Independentemente disso, o estrago já foi feito. “É injusto o que tentam fazer com meu filho”, disse a mãe de Diego, Josileide Silva. “Ele ama o país onde nasceu. Não acredito que irá perder a cidadania.” O irmão, Jair Costa, 27 anos, teme que o jogador brasileiro seja vaiado se jogar pela Espanha no Brasil. “Mas ele foi corajoso, como demonstrou toda a vida”, afirmou Costa, que também já virou a camisa. “Se a Espanha fizer a final da Copa com o Brasil, vou torcer pelo meu irmão.” 

Antes de sair de Lagarto para peregrinar pelos campos do mundo, Diego ajudava o pai, um agricultor, plantando  mandioca e feijão. Já no futebol, jogou no Estado de São Paulo e em Portugal, mas foi na Espanha que começou a construir uma carreira sólida e criar uma nova identidade social. Sua ideia de pertencimento, portanto, está vinculada a esse país. Na cabeça dele, há mais dívidas com a Espanha do que com o Brasil, pelo qual disputou duas partidas não oficiais em março deste ano, o que lhe dá carta branca para servir à equipe espanhola. “Em momento nenhum eu renunciei ao Brasil. Simplesmente me sinto valorizado aqui (Espanha). Tudo o que eu sou devo a esse país”, afirmou. Para o sociólogo Túlio Velho Barreto, vice-coordenador do núcleo de sociologia do futebol da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade Federal de Pernambuco, outro fator importante é que Diego tem mais chances de ser titular no time espanhol.  “Na hora de uma decisão como essa prevalecem mais os interesses imediatos do negócio futebol do que a ligação de Diego ao país onde nasceu”, diz.

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A história do atacante do Atlético de Madrid está longe de ser incomum. O Brasil é tido como o maior exportador dos chamados “pés de obras”, jogadores que deixam o País sem ter feito carreira por aqui. E, no curso das andanças dessa turma, muitos criam interesses e identidade nos locais onde se desenvolvem. E esse processo só tende a crescer se a maneira de administrar o negócio futebol no País não mudar – a começar pela falta de atenção com os praticantes da modalidade em regiões distantes dos grandes centros. “Uma coisa é certa: a turma da patriotada sai ganhando com o episódio Diego Costa, pois o sentimento ufanista fica ainda mais aflorado”, diz Barreto. De fato, o brasileiro encara a Seleção de futebol como um símbolo da nacionalidade – de forma muito mais intensa que os outros países.


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