Quando Rubens Barrichello e Michael Schumacher puxaram o pano vermelho que cobria a Ferrari F-1 2000, mais de uma centena de cinegrafistas e fotógrafos focou suas câmeras e disparou seus flashes. O mundo pôde ver então as linhas da mais nova máquina construída em Maranello, pequena cidade do Norte da Itália, onde fica a sede da mais tradicional equipe de Fórmula 1 do planeta. Fundada pelo ex-piloto Enzo Ferrari em 1940, morto em 1989, a escuderia do cavalinho negro é a única a ter participado de todas as 50 temporadas da categoria – venceu no total 125 corridas – e magnetiza por onde passa uma multidão de fãs – na Itália, chamados de "tifosi". Por tudo isso, o lançamento do bólido vermelho foi o evento esportivo mais importante da segunda-feira 7 na Europa e provavelmente no mundo. Até "Il Capo" Gianni Agnelli, dono da Fiat e empresário mais poderoso da Itália, estava lá.

Ao lado de Agnelli e Luca di Montezemolo, o presidente da equipe, Rubens Barrichello parecia estar vivendo um sonho. Em sua oitava temporada na Fórmula 1, o piloto brasileiro de 27 anos finalmente tem nas mãos um carro de ponta. E ele promete vencer. "Não posso chegar na Ferrari e querer outra coisa", diz. É o que esperam também os torcedores e a imprensa italiana (há 20 anos que um piloto da Ferrari não é campeão) e, sobretudo, os brasileiros – órfãos de um vencedor desde a morte de Ayrton Senna, em 1994. O título da temporada pode ser além da conta, mas subir no degrau mais alto do pódio é quase uma obrigação. Para tanto, Rubinho vai ter de encarar uma pressão talvez maior do que a potência do novo motor 049. Será que ele segura?

O primeiro desafio é exatamente com o propulsor que, a um mês do início da temporada, ainda não está pronto. Há 15 dias, no Brasil, Barrichel-lo admitiu o atraso e demonstrou preocupação quanto ao desempenho do carro nas duas primeiras provas, na Austrália e no Brasil. "A coisa pode ficar complicada, mas quase todos os testes foram feitos e estamos confiantes. A Ferrari é muito organizada e eles podem mudar o tipo de uma biela de um dia para o outro num passe de mágica", ponderou o piloto, que, sem ter o carro pronto, teve de treinar com o modelo de 1999 na pista de Fiorano, ao lado da fábrica, na terça-feira 8.

Na categoria desde 1993, Rubinho nunca venceu uma corrida. Para tanto, vai ter de superar as fortíssimas McLaren e, talvez mais difícil ainda, seu próprio companheiro de equipe, Michael Schumacher. O alemão, há cinco anos na Ferrari, está em uma temporada decisiva e quer ser campeão de qualquer maneira. Por isso, não abre mão de ser tratado como o piloto número 1 da equipe. "Espero que Barrichello me ajude a vencer", declarou na segunda-feira. Mas Rubinho não pensa exatamente assim. "O primeiro piloto vai ser aquele que conseguir os melhores resultados na pista", diz o brasileiro. Até agora, os encontros entre os dois foram raros (leia quadro). Durante o lançamento, Schumacher pediu ajuda a Rubinho para falar em italiano, língua que o piloto brasileiro aprendeu em família. "Sou seu professor", brinca Rubinho.

Pelo sangue italiano e por ter quebrado o recorde da pista de Fiorano no final de 1999, o brasileiro está empolgando os ferraristas. "É um momento de muita pressão, mas estou preparado", diz Barrichello, que recebe cerca de US$ 5 milhões por ano da Ferrari. "Venho trabalhando para não levar a emoção para dentro do carro, pois isso já me prejudicou demais. Hoje sei que a mente pode mais que o braço, que o pé", diz. "Se eu estivesse com acompanhamento psicológico, não teria vergonha de dizer. Mas a vida tem me ensinado muito", afirma o piloto, que, finalmente, tem tudo para enterrar de vez o apelido "Rubinho pé-de-chinelo".