A sistemática desigualdade social e de renda, que por décadas castigou a população, foi uma das maiores chagas brasileiras, a colocar o País na rabeira das nações em desenvolvimento. O fosso só aumentou, dado o descaso de governantes omissos. Mas no decorrer de lentas transformações, a duras penas, eis que as estatísticas começam a mostrar uma nova e promissora realidade. Menos contrastante, talvez mais justa. Um levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) apontou que, pela primeira vez em duas décadas, o número de brasileiros na camada mais alta de renda superou o da faixa mais pobre. A pesquisa toma por base o ano de 2012 e registra que mais de dez milhões de pessoas (o equivalente a 5,2% da população) já se encontram na chamada classe alta, com renda per capita mensal superior a R$ 2.555,50. Enquanto isso, os menos favorecidos, com renda de até R$ 83,20 por mês, somam perto de oito milhões de pessoas (4% da população total). O panorama é referendado por técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo eles, a desigualdade vem caindo aceleradamente e, a manter essa velocidade, poderemos chegar a uma taxa semelhante à dos EUA em pouco mais de oito anos. Seria por assim dizer a consagração do Brasil como país de Primeiro Mundo. O programa Bolsa Família, que na semana passada comemorou dez anos de existência, foi indiscutivelmente uma alavanca vital nesse processo de inclusão e valorização da cidadania. Com ele, estima-se que os 10% mais pobres da população tiveram, no período, ganho real de renda superior a 120%. É bem verdade que ainda há muitos desafios a superar. O jornal “Folha de S.Paulo” mostrou na semana passada que, com base em dados do IBGE, é possível verificar que boa parte dos 595 novos municípios brasileiros, criados a partir de 1997, continua a manter os mesmos padrões de baixa qualidade de vida, segundo critérios do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em outras palavras, o Estado provedor continua a falhar na sua missão essencial de bem-estar da população. Eis uma agenda concreta, apartidária e altamente relevante a ser abraçada pelos futuros presidenciáveis: as reformas necessárias para mudar de uma vez por todas esse quadro de carências.