As lâmpadas que iluminam as cidades deixam na penumbra uma ameaça ambiental que aumenta a cada noite: a poluição luminosa. Apesar de concentrada nos grandes centros urbanos, a iluminação excessiva pode afetar ecossistemas distantes, interferindo no equilíbrio ecológico e na saúde humana. “A vida na Terra depende do ciclo natural de dia e noite”, explica Scott Kardel, diretor da International Dark-Sky Association (IDA), entidade americana que luta há 24 anos pela preservação da escuridão. “Quando clareamos a noite, perturbamos todo um ecossistema.”

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BELEZA PERIGOSA
O céu iluminado de Miami, nos EUA. Todos os anos, cinco milhões de pássaros
morrem no país ao se chocar contra prédios altos, atraídos pelas luzes noturnas

De acordo com a IDA, a poluição luminosa aumenta no ritmo de 4% ao ano, taxa bem maior que a do crescimento da população mundial, estimada em 1,14%. O pesquisador americano Paul Bogard, autor do livro “The End of Night” (“O Fim da Noite”, ainda sem previsão de lançamento no Brasil), afirma que a escuridão é um recurso natural cada vez mais escasso. Segundo ele, 99% da população dos Estados Unidos e da Europa Ocidental já não experimenta o verdadeiro breu. Não há estatística similar no Brasil.

A preocupação vai além do mero sumiço do céu estrelado. “Pelo menos 60% dos invertebrados e 30% dos vertebrados são espécies noturnas”, explica Bogard. “Iluminando seu ecossistema, estamos destruindo o habitat natural.” Mariposas desorientadas pela luz e pássaros migratórios que morrem ao se chocar contra edifícios brilhantes representam apenas alguns dos efeitos indesejáveis. Nos seres humanos, o excesso de luz durante a noite eleva o risco de depressão, estresse e até mesmo câncer (confira quadro).

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Com a sociedade estruturada de forma tão dependente da iluminação artificial, não é possível simplesmente apagar as luzes e considerar o problema resolvido. Mas ele pode ser minimizado. Nos Estados Unidos, um terço da energia utilizada para clarear as ruas, o equivalente a US$ 2,2 bilhões por ano, é desperdiçado por lâmpadas que não iluminam onde e como deveriam. Parte da solução está na troca de lâmpadas frias por luzes do tipo LED de tons quentes, que direcionam melhor o foco para baixo. Além disso, cidades como Tucson (Arizona) elaboraram uma legislação específica para estabelecer direção, limites, tipos e horários de iluminação. Sensores de movimento para carros e pedestres são outra aposta para que a natureza possa aproveitar todos os benefícios da verdadeira escuridão. 

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