O leilão do campo de petróleo de Libra para além da discussão banal de privatização de riquezas significou um passo e tanto no modelo de parceria público-privada e, de quebra, trouxe esperanças concretas de novos investimentos em áreas sociais, historicamente carentes de verbas. Entrando em operação, Libra deve gerar quase R$ 300 bilhões para a educação e a saúde, como está estabelecido nas regras de direcionamento de recursos do pré-sal brasileiro. O regime de partilha do projeto foi bem estruturado e deu margem para o surgimento de um consórcio vencedor bastante eclético, com participantes nacionais e estrangeiros, estatais e privados. Assim, Libra contará com a expertise não apenas da Petrobras e da recém-criada estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA), com poderes de fiscalizar e até de rever os critérios técnicos de exploração. Terá também a anglo-holandesa Shell, a francesa Total (já com ampla rede de postos pelo País) e as duas estatais chinesas (CNPC e CNOOC), que representam uma entrada de gala, significativa, de capitais orientais nesse setor do mercado interno. Como disse a presidenta Dilma, respondendo aos protestos de entreguista, de nada adianta uma riqueza repousando no fundo do mar sem recursos para explorá-la em proveito do bem-estar da Nação. Na ponta do lápis é possível dizer que, curiosamente, Libra vai estar muito mais nas mãos do Estado do que se imagina. Senão, vejamos: a União segue controladora de quase 42% do óleo extraído. A Petrobras ficará com 40%. E, apesar de essa totalização ser bem superior à dos estrangeiros, caberá a eles a missão de injetar boa parte do capital necessário à empreitada, algo como US$ 400 bilhões. Com perdão do trocadilho, um negócio da China para os brasileiros! A simples decolagem desse que é o mais esperado projeto de investimento dos últimos anos – e considerado por especialistas globais como “o mais importante negócio do petróleo jamais visto” – traz extraordinárias perspectivas de desenvolvimento. O Brasil, com o pré-sal, pode sim almejar, em curto espaço de tempo, um lugar no clube dos mais ricos, como país de Primeiro Mundo. Não apenas porque são imensas as jazidas, com promessa de dividendos bilionários, como também porque o modelo condicionou um inédito direcionamento de lucros para promover o resgate social.

Carlos José Marques, diretor editorial