O argentino naturalizado chileno Ariel Dorfman contribuiu muito para o enriquecimento da idiotice latino-americana ao atacar papai Walt Disney, em 1972, com seu livro Para ler o Pato Donald. Mais tarde, exilado nos Estados Unidos, fez sucesso na Broadway com A morte e a donzela, peça que virou filme de Roman Polanski. Hoje, continua fiel ao marxismo como demonstra seu recente romance Konfidenz (Record, 174 págs., R$ 20), uma alegoria política que aborda ambiciosamente temas como lealdade, ideologia e verdade. Quase todo escrito em diálogos e comentários confessionais, e ambientado em cenários parcamente descritos, o texto parece estar mais para uma peça de Beckett do que para um romance tradicional.

Embora o início tenha alguns toques de mistério – o telefone toca num quarto de hotel, uma mulher atende e escuta uma voz desconhecida –, os elementos de suspense logo se tornam secundários à política. Apesar da tensão do início, o clima vai se dissipando à medida que a ação avança. Em vez de construir uma situação dramática e complexa, Dorfman vai desempacotando os fatos, pedaço por pedaço, deixando a história mais amena a cada capítulo. Konfidenz, que traduzido do alemão quer dizer confiança, pode ser um romance político importante, mas, infelizmente, não emociona. Principalmente porque seus personagens não são gente. São panfletos.