A música barroca vai se misturar ao burburinho, ao tilintar dos cristais e ao farfalhar das longas saias de musseline. Para 100 brasileiros, o réveillon do ano 2000 será uma inigualável vivência de luxo. Eles já garantiram sua vaguinha no Le Bal du Roy, uma festa para duas mil pessoas no castelo de Versalhes, o mais exuberante do mundo. Foi nessa construção nababesca que Luís XIV descansava de seu reinado absoluto e resplendoroso sobre a França miserável do século XVIII. Quem está pagando US$ 6.610 por seis dias de hospedagem no cinco estrelas Royal Saint Honoré e mais o baile do rei não quer aparecer de jeito nenhum. "Num país com grandes abismos sociais como o nosso, as pessoas se sentem culpadas de ter dinheiro e poder desfrutá-lo com prazer", explica Rodolfo Maineri, da Look Voyages, representante do evento no Brasil. Ele só dá uma dica do perfil dos súditos sul-americanos. "Não são só pessoas abastadas, mas também exigentes."

No ano passado a organização do castelo realizou a comemoração da chegada de 1999 para 600 pessoas, mas, segundo Maineri, foi só um treino para a grande noite do fim do milênio. "Este ano teremos o baile que acontecerá numa pirâmide de vidro construída nos jardins do chatô. Uma pirâmide como a do museu do Louvre que é espetacular não só pela beleza da construção, mas também pela implicação esotérica, sua expressão de energia", garante ele. Os participantes vão ser recepcionados por atores vestidos de Luís XIV, Madame Pompadour e membros da corte. O jantar, assegura a coordenação, "com tudo que existe de melhor", será servido na Galerie des Batailles, a mesma em que foi assinado o Tratado de Versalhes no fim da Primeira Guerra Mundial.

Depois de regalar-se no último jantar do século XX, os visitantes poderão participar de um tour por salas do castelo e ver as jóias da coroa, um privilégio que os turistas em geral não têm. As pessoas vão reunir-se na deslumbrante galeria dos espelhos – esta, sim, sempre aberta à visitação durante o ano – para assistir a um show pirotécnico de 18 minutos. Na sequência, na Opera Royale haverá um recital de música clássica para aliviar os ouvidos da agressão do pipocar dos fogos. Aí, sim, o público poderá cair no rock’n’roll dentro da pirâmide. Para quem ficou tentado, mas sente-se um pouco culpado, Maineri avisa: "Parte da arrecadação será doada para restauração das obras de arte e móveis que foram pilhados durante a Revolução Francesa." Não custa lembrar que, naquela época, o acúmulo de riqueza da nobreza provocou a fúria dos revolucionários. "O máximo que pode acontecer hoje é pedirem a cabeça dos organizadores", brinca Maineri.