Em março passado, o Congresso dos Estados Unidos aprovou por 97 votos a favor e apenas três contra, a retomada do polêmico e quase esquecido Projeto Guerra nas Estrelas. Criado originalmente ainda no governo Reagan (1983), portanto antes do fim da chamada guerra fria (contra a ex-União Soviética, para quem não se lembra), foi engavetado no governo seguinte, de George Bush, por ser muito caro e ambicioso demais para a época – a ameaça soviética já não existia, é claro. O objetivo desse sofisticado arsenal, que ficará todo em órbita da Terra, é simples: destruir, com o uso de canhões laser, qualquer míssil balístico nuclear que possa vir a ser lançado contra os Estados Unidos ou seus aliados. E quem poderia fazer isso hoje? Quem é o inimigo nuclear com poder de fogo suficiente para convencer os congressistas americanos a gastar mais de US$ 1 bilhão em tal projeto? A Coréia do Norte, que, segundo os assessores de Bill Clinton, poderá em breve ter foguetes com capacidade de atingir o Havaí e a Costa Oeste americana.

 

Queima – Se desta vez o projeto realmente sair do papel – já há uma base da Força Aérea dos Estados Unidos na Califórnia trabalhando nele –, dentro de cinco a dez anos estará sendo lançado o primeiro desses canhões orbitais a laser. Como dá para ver na ilustração, para obter o laser queima-se flúor com hidrogênio. As moléculas "excitadas" dessas duas substâncias produzem uma verdadeira cascata de fótons (partículas de radiação eletromagnética que se movem à velocidade da luz). Para canalizar toda essa energia, a câmara de combustão é equipada com espelhos planos que orientam os fótons para a mesma direção, concentrando seu foco. Daí, o laser, que por sua vez é direcionado para um espelho principal, em forma de prato, que o concentra ainda mais e direciona o feixe para o alvo: um míssil balístico em trajetória suborbital. Quando acionado, o feixe de laser destrói qualquer míssil em menos de um segundo.

A idéia do projeto, que já está nas mãos dos fabricantes Boeing e Lockheed Martin, é espalhar esses canhões por vários pontos estratégicos da órbita terrestre. Satélites espiões já teriam condições de detectar a ameaça de um ataque desde o momento em que são abertas as portas dos silos que escondem os mísseis balísticos. Cada um dos canhões laser ficará em órbitas a cerca de 1.500 quilômetros de altitude. Terão o tamanho equivalente a três telescópios Hubble. Só o espelho principal medirá mais de dez metros de diâmetro. Bom, para que o Guerra nas Estrelas passe realmente a existir resta ainda superar um último e difícil obstáculo: convencer os russos, com quem os Estados Unidos assinaram ainda em 1972 um acordo que proíbe tal recurso bélico.