Na terça-feira 10, ao inaugurar os debates do Simpósio Internacional sobre Gravidez na Adolescência, promovido pela Organização Pan-americana de Saúde, o ministro José Serra arranjou um problema a mais em sua agenda abarrotada de questões graves. Ele disse que a apresentadora Xuxa dá "mau exemplo" ao exibir com tanta insistência sua filha Sasha para um gigantesco público infanto-juvenil. "Imagine como ficam as cabeças de milhares de crianças e adolescentes que vêem a Xuxa como modelo e seguem seus exemplos", disse Serra. O comentário gerou uma saraivada de críticas, a principal delas da própria Xuxa, que respondeu ao vivo, pelo celular, no Jornal Nacional. Ela considerou o ministro injusto e demagógico. "Mau exemplo é o que eu vejo todos os dias no noticiário: aumento de preços de remédios, planos de saúde que não respeitam o cidadão e os hospitais sem médicos", criticou Xuxa. O senador Antônio Carlos Magalhães alfinetou: "Só faltava o Serra brigar com a Xuxa." O ministro admitiu a falha e tratou de preparar uma carta "carinhosa", segundo assessores, para mandar à apresentadora, desculpando-se pelo tom da declaração. Por maior que seja, o efeito-Sasha não pode ser o único responsável pelos altos índices de gravidez precoce. Mas, dadas as dimensões assustadoras do fenômeno, não seria mal se Xuxa se interessasse em utilizar sua popularidade para dar uma mãozinha.

A gravidez precoce vem se transformando num dos maiores problemas de saúde pública do País. Mais de 50% das adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, sem escolarização, já têm pelo menos um filho. Dados do Ministério da Saúde indicam que 700 mil adolescentes, entre 10 e 19 anos, deram à luz no Brasil em 1998. Os procedimentos de parto custaram R$ 153 milhões só para a rede do SUS. Entre 1993 e 1998, o número de partos em meninas entre 10 e 14 anos aumentou 31%. Segundo o Ministério, a maior parte dos recém-nascidos que morrem é de filhos de mães adolescentes, de classe humilde e que não contaram com o acompanhamento pré-natal. A solução para o problema, na opinião do ministro Serra, é as meninas retardarem sua iniciação sexual. O ministro é contra a distribuição de camisinhas a meninas com menos de 14 anos. Na resposta que deu, veiculada pelo Jornal Nacional, Xuxa mencionou ter sido contratada pelo Ministério da Saúde. Na verdade, assim como Gugu e Faustão, foi contatada, sem "r", para divulgar, durante seu programa semanal de tevê, a campanha de vacinação infantil, que tem nova rodada neste sábado 14. Os ídolos da televisão têm influência sobre o público. Nem por isso perdem o direito de conduzir como bem entenderem suas vidas pessoais. Mas, antes de transformar a intimidade em show, poderiam dedicar alguns segundos a pensar sobre possíveis consequências negativas. Talvez seus próprios familiares agradecessem.