Delegacia de Roubo a Bancos de São Paulo, encarregada de investigar o assalto milionário à agência central do Banespa, da qual foram levados R$ 37,5 milhões, está prestes a colocar as mãos no homem que comandou a ação, conhecido como Nalvinho. Conforme ISTOÉ apurou com exclusividade, Nalvinho fugiu para a Bahia logo após o roubo, na madrugada do dia 5 de julho, com um de seus parceiros, levando R$ 9 milhões. No total, 17 homens participaram do ataque ao cofre do Banespa.

Uma equipe de investigadores está à procura de Nalvinho pelo sertão baiano. Na semana passada, eles vasculharam duas cidades da região, onde Nalvinho havia sido preso anteriormente, por assalto a bancos. O responsável pelas investigações, delegado Ruy Ferraz Fontes, ficou irritado ao saber que ISTOÉ teve acesso às informações sobre Nalvinho, mas acabou confirmando-as. A polícia já sabe que o assaltante ficou seis meses planejando o roubo com base em dicas sobre o sistema de segurança passadas pelo operador de sistemas Sidney Cirino de Oliveira. Funcionário há sete anos da empresa Estrela Azul, encarregada de proteger o patrimônio do Banespa, Sidney revelou como driblar o esquema de segurança do Banespa a seu cunhado Denilson Silveira de Paula. Preso na Penitenciária do Estado, Denilson cumpre pena por roubo e homicídio e, detrás das grades, acionou Nalvinho.

Preso logo após o roubo, Sidney deixou a Estrela Azul em maus lençóis. Como facilitou o assalto, a empresa terá de arcar com o prejuízo e, segundo fontes ouvidas por ISTOÉ, corre o risco de ser fechada por falta de recursos. A Estrela Azul não fala sobre o assunto. O mesmo ocorre com o próprio Banespa.

Passado mais de um mês, apesar de estar com todo o seu efetivo na rua – 35 homens –, o delegado Fontes só conseguiu reaver R$ 2,2 milhões do dinheiro roubado. Já R$ 1,7 milhão foi recuperado em forma de imóveis e bens que haviam sido adquiridos pelos assaltantes e suas famílias. Mas, antes mesmo de ser esclarecido, o assalto provocou uma espécie de caçada ao tesouro, com episódios dignos de uma boa trama policial. No roteiro, não faltam histórias de ladrão roubando ladrão. "Um bandido telefonou para a delegacia dizendo que tinha feito parte do assalto, ficado com R$ 2 milhões, mas que seu quinhão acabou roubado de sua própria casa", contou, rindo, um policial envolvido nas investigações.

 

Inversão de papéis Na prática, da bandidagem à polícia, muitos estão querendo tirar uma casquinha dos malotes recheados de notas de R$ 50. Há 15 dias um agente policial e um investigador foram denunciados na Corregedoria, departamento encarregado de investigar homens da própria instituição. De acordo com a família do assaltante Flásio Trindade de Souza, que atuou na operação Banespa e está foragido, dois policiais civis e um ex-policial militar sequestraram a mulher e a prima do assaltante e as mantiveram em cárcere privado. Para libertá-las, exigiram R$ 1,3 milhão.

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A ganância despertada pelas enormes cifras do assalto é tanta que a cúpula da polícia abriu o leque das investigações. Corre sob sigilo a denúncia de que policiais civis teriam tomado dinheiro de outro integrante do bando. Na mesma inversão de papéis, com os ladrões se transformando em vítimas, há o caso do professor Sílvio Mendes Baia, que também participou do roubo e acabou preso na cidade de Oliveiras (MG). A mulher de Sílvio acusou policiais e um advogado da cidade de terem lhe extorquido R$ 250 mil para facilitar a fuga de seu marido antes que a polícia paulista colocasse as mãos nele. Ela pagou, mas mesmo assim seu marido está atrás das grades.

Até o secretário estadual de Segurança, Marco Vinicio Petrelluzzi, foi indiretamente envolvido na trama. Em uma viagem que fez de avião para Ribeirão Preto, no interior paulista, dias depois do assalto, Petrelluzzi viajou ao lado de um dos assaltantes do Banespa. Obviamente, ele nem imaginava a ficha corrida de seu companheiro de vôo. O secretário estava na poltrona 18 e o bandido ocupava, tranquilamente, a de número 21. A parte do roubo que cabia ao assaltante, segundo fontes policiais, fora despachada como bagagem, sendo levada bem embaixo dos pés de Petrelluzzi.

Colaborou Mario Chimanovitch


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