Fotos Kelsen Fernandes IMG_8628.jpg 

Um conjunto de práticas estranhas, como abanar as mãos ao lado da cabeça depois de fixar um pequeno quadrado de papel escuro sobre o nariz ou sapatear no chão antes de levantar da cadeira são o segredo do método criado por um ucraniano nascido praticamente cego para ajudar as pessoas com problemas de visão a recuperar parte da capacidade de ver. Ao todo, são mais de cem atividades desenvolvidas pelo ucraniano Meir Scheider, 58 anos. Na Califórnia, onde vive, o terapeuta criou a School for Self-Healing (Escola para Autocura). Seus conselhos e exercícios para a visão estão reunidos no livro “Saúde Visual por Toda a Vida” (Ed. Cultrix).

Ele conta: “Nasci vesgo, com glaucoma (excesso de pressão nos olhos), astigmatismo (curva irregular da córnea), nistagmo (movimento involuntário dos olhos) e catarata. Fiz cinco cirurgias malsucedidas e o prognóstico era continuar da mesma forma, sem ver, pelo resto da vida.” Em busca de recursos que o ajudassem a recuperar minimamente a capacidade de enxergar, dedicou a vida ao desenvolvimento do método de terapia ocupacional que chama de Self-Healing (Autocura, em português).

Com muita pesquisa e obstinação, Scheider foi atrás de opções para ativar de algum jeito os músculos relacionados à visão. Passou a acreditar que por aí conseguiria algum progresso quando ainda era menino. “Eu estava em um navio com destino a Israel. Depois de contemplar longamente e com grande esforço alguns sinais da luz da lua refletida nas águas do Mediterrâneo, a única coisa que conseguia ver, enxerguei pela primeira vez a cor amarela de um pedaço de queijo que tinha nas mãos. Nesse momento, entendi que talvez tivesse uma ínfima possibilidade de ampliar a pequena capacidade visual que tinha. E fui à luta”, diz o terapeuta. Em mais de quarenta anos de estudo, ele criou uma rotina de exercícios para serem praticados todos os dias. “Consegui aumentar minha visão em cerca de setenta por cento. Hoje tenho até carteira de habilitação para dirigir na Califórnia, nos Estados Unidos”, diz Scheider.

Eu o conheci durante um workshop e fiquei impressionada com a sua flexibilidade. Ele apoiava as mãos na cintura (naquela posição que lembra um açucareiro) e, sem tirá-las dali, conseguia unir os cotovelos à frente do tórax. Imagina isso? Perguntei de que modo esse tipo de contorcionismo auxiliaria na melhora da visão. Scheider explicou: “Usamos aproximadamente cinquenta músculos do corpo com mais frequência, mas temos cerca de seiscentos. Há muito potencial que pode ser explorado especialmente por pessoas que precisam superar alguma deficiência.”

IMG_8708.jpg 

Seu trabalho desperta muita polêmica entre os oftalmologistas. A maioria critica o método dizendo que os exercícios não produzem mais do que um relaxamento temporário. Outros recomendam as suas práticas. O oftalmologista Mauro Rabinovitch, da Clínica Visão e do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, está entre os que valorizam as descobertas do ucraniano. Rabinovitch costuma sugerir a pacientes com deficiências visuais que não se resolvem com os recursos atuais da medicina que experimentem o método de terapia ocupacional criado pelo ucraniano. Alguns têm a visão prejudicada por doenças intraoculares, infecções ou traumas na retina. “A visão depende de muitos fatores. O método de Meir ajuda esses pacientes a explorarem recursos aos quais as pessoas com boa visão não precisam dar maior atenção”, diz Rabinovich. Ele próprio incorporou exercícios sugeridos por Schneider para descansar a vista cansada do computador. “Saio da frente da tela e vou olhar o horizonte”, diz.

Scheider frequenta o Brasil desde 2002. Aqui, formou mais de 100 profissionais da saúde para ministrar suas técnicas. “Fazemos uma combinação de massagens, respiração, movimentos e estimulação que promove e recupera a saúde visual e de todo o organismo”, diz a instrutora Tatiana Gebrael, de São Paulo, mestre em educação especial e deficiência visual pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Todos os sábados, das nove às dez da manhã, Tatiana ensina gratuitamente o método de Scheider para superar deficiências no parque Villa-Lobos, em São Paulo (em frente ao anfiteatro do parque). Ela e os outros terapeutas ministram os exercícios com a finalidade de tornar mais lento o progresso de condições como a artrite, dores crônicas, erros de refração visual (miopia, astigmatismo, entre outras), glaucoma e outras doenças dos olhos. “A proposta não é curar doenças incuráveis, mas melhorar a
qualidade de vida”, diz Tatiana. ´

Ainda faltam trabalhos científicos que documentem os resultados da técnica, o que é uma lacuna. Mas também não faltam depoimentos de pessoas que experimentaram melhoras. Uma delas é Amanda Mirage, 28 anos, assistente de cenografia do Teatro Oficina, em São Paulo. “Consultei muitos médicos para resolver meu problema de olhos secos. Eu usava três colírios e ainda assim sofria com os sintomas”, diz ela. “Com os exercícios diários do método de Schneider, meus olhos corrigiram esse problema e não precisei mais usar remédios”, diz Amanda. Os exames mostraram também uma redução de meio grau de miopia em cada olho, o que dá esperanças a Amanda de, um dia, não precisar mais dos óculos. “Minha visão melhorou muito. Mas para isso preciso praticar diariamente os exercícios”, explica.

 IMG_8659.jpg 

A terapeuta Tatiana Gebrael ensina alguns exercícios para problemas específicos

Pálpebras caídas (ptose)
Uma das causas mais comuns é o enfraquecimento do músculo elevador da pálpebra em consequência do envelhecimento. Também ocorre por problemas neurológicos e pode ser congênita no caso de malformação do músculo ou tendão durante a gestação. Além das questões estéticas, podem prejudicar o campo visual e, em crianças, atrapalhar o desenvolvimento normal da visão.

Descobrir a causa do problema é muito importante para o tratamento. Porém, para todos os casos acima alguns exercícios do método Self-Healing e mais algumas técnicas podem ajudar muito. Seguem as dicas:
* Massageie os cílios e estimule o piscar. Confira estes exercícios clicando aqui

 Alongue e massageie o pescoço, pois a soltura e maior circulação nesta área ajudam a melhorar o controle neurológico da cabeça. Assista.

 Massageie muito toda a região da testa, em movimentos circulares ou vibratórios

* Alterne compressas mornas e frias sobre os olhos fechados. Isso ajuda a aumentar a circulação e oxigenação dos músculos ao redor dos olhos e diminuir inchaços. Utilize toalhas limpas e com tecidos agradáveis. Faça as compressas por 3 a 5 minutos cada uma

* Massageie SUAVEMENTE a região das pálpebras, com movimentos circulares, e com LEVES batidinhas com as pontas dos dedos para estimular neurologicamente a área. Dê tapinhas suaves também na região logo abaixo das sobrancelhas. NÃO APERTE OU FAÇA MASSAGEM FORTE SOBRE OS OLHOS

* Pratique os seguintes exercícios visuais:
Olhar longe 
Sunning e palming  
Melissa 

* Com os olhos fechados, alongar suavemente as pálpebras com os dedos

 Massagear e soltar os músculos da mandíbula, pois ajudará a trazer controle e circulação para os músculos da pálpebra. Assista.

 Alongar os olhos também auxilia na movimentação da pálpebra. Assista